Raras vezes terá havido na música portuguesa uma conjugação de artistas como os Heróis do Mar. Separadamente, os cinco membros transformaram-se em peças-chave do meio musical português; em conjunto, foram um dos grupos mais importantes e inovadores que o rock português viu nascer.
Quando se formaram, em 1981, já todos tinham alguma experiência musical. O baixista Pedro Ayres Magalhães e o guitarrista Paulo Pedro Gonçalves haviam sido fundadores dos Faíscas, o primeiro grupo punk português, que existira entre 1977 e 1979 sem nunca gravar, mas influenciara nomes como os Xutos & Pontapés. Quando os Faíscas desapareceram, Magalhães e Gonçalves formaram os Corpo Diplomático com o teclista Carlos Maria Trindade. Tozé Almeida, por seu lado, fora baterista dos Tantra desde o início daquele grupo. O cantor Rui Pregai da Cunha, finalmente, tinha um projecto experimental chamado Colagem Urbana.
O que reuniu estes músicos em Março de 1981 foi a ideia de Magalhães e Gonçalves de formarem um grupo musical que reflectisse de algum modo Portugal, a sua história e a sua cultura. A escolha do nome Heróis do Mar, retirado ao hino nacional, não foi casual, tal como também não o fora a opção por um visual futurista-militarista e por letras simples que projectavam um imaginário cultural nostálgico por um Portugal mítico, colonial e classicista.
Quando o álbum de estreia, Heróis do Mar, é lançado no Outono de 1981, a polémica estala à volta do grupo, que é acusado de fascista e neonazi, tal como acontecera poucos meses antes em Inglaterra com os Span-dau Ballet por razões muito semelhantes, relacionadas com o imaginário utilizado por ambos os grupos que tocava em pontos sensíveis da memória colectiva ocidental. O 25 de Abril estava ainda demasiado próximo para que canções como Saudade ou Brava Dança dos Heróis, inspiradas ao mesmo tempo na música electrónica futurista proveniente de Inglaterra e numa atitude de reciclagem estética, pudessem ser recebidas pacificamente.
O tempo encarregou-se de eliminar a polémica, deixando apenas a música que foi finalmente reconhecida apenas pela sua qualidade. Nem foi preciso muito tempo: no Verão de 1982, Amor, uma canção de dança que não fazia parte do álbum, torna-se no maior êxito de sempre da música popular portuguesa desde Eu Tenho Dois Amores, de Marco Paulo, levando à criação do Disco de Platina, que até então não existia em Portugal.
Mas o sucesso não será repetido pelos discos seguintes, onde o visual era já menos ousado e se inspirava mais nos cabedais punk ou nos tecidos de pescadores.
Mãe, o álbum de 1983, é bem recebido pela crítica mas não pelo público, e o mini-LP de 1984, O Rapto (que inclui o êxito de rádio Só Gosto de Ti) passa despercebido.
Apenas dois singles mantêm a chama acesa: Paixão (1983) A Alegria (1985), obtêm sucessos discretos na rádio, sem repetirem a popularidade de^mor.
O consenso junto da crítica é que desde o primeiro álbum e/4morque os Heróis do Mar não conseguem concretizar todas as potencialidades criativas do colectivo.
Entretanto, os músicos começavam a desmultiplicar-se em projectos a solo. Paulo Pedro Gonçalves e Carlos Maria Trindade gravam discos em nome próprio, Pedro Ayres Magalhães dirige a editora Fundação Atlântica, onde produz discos de Anamar e Delfins, e escreve e produz o álbum de Ne Ladeiras Sonho Azul.
Os cinco Heróis estão também envolvidos no último disco de António Variações Dar e Receber, onde todos tocam e Magalhães e Trindade igualmente assinam a produção e os arranjos.
1985 traz um período de crise: coincidindo com a edição do singie Alegria, anuncia-se a possível saída (não concretizada) do cantor Rui Pregai da Cunha, e o grupo muda de editora. A saída da crise dá-se durante uma viagem a Macau: dos dez dias que previam ficar no território para dar concertos, ficam um mês e regressam a Portugal rejuvenescidos e renovados.
Dessa viagem nasce, depois de quatro meses passados em estúdio, o álbum Macau, que, publicado no final de 1986, relança a carreira dos Heróis do Mar com o seu maior êxito crítico de sempre.
Mas os cinco músicos estavam claramente cada vez mais afastados: Carlos Maria Trindade é muito requisitado como produtor, trabalhando com os Rádio Macau e Delfins, Tozé Almeida forma uma produtora televisiva, Pedro Ayres Magalhães lança os Madre-deus com Rodrigo Leão dos Sétima Legião. Depois de um último álbum lançado £m 1988 e intitulado simplesmente Heróis do Mar, gravado já sem Almeida, o grupo desfaz-se em 1990, na sequência do abandono definitivo de Trindade.
Mas se os Heróis do Mar encerram actividades em 1990, deixando cinco discos de valor e popularidade diferentes, o mesmo já não se pode dizer dos seus componentes. Só Tozé Almeida não se manteve ligado directamente à música, dedicando-se à realização de programas televisivos, publicidade e alguns telediscos. Pedro Ayres Magalhães pôde dedicar-se a tempo inteiro aos Madredeus, concebendo igualmente o projecto Resistência, fazendo durante algum tempo parte dos Delfins e ajudando na criação da União Lisboa, empresa de agenciamento e manage-mentde artistas, que apadrinhou os Delfins, Santos & Pecadores e Pólo Norte entre muitos outros. Rui Pregai da Cunha e Paulo Pedro Gonçalves formarão, sem sucesso, um dos primeiros grupos nacionais pensados internacionalmente, os LX-90, antes de se radicarem em Londres com os Kick Out The Jams; Cunha retirar-se-á eventualmente da música, e Gonçalves seguirá para os Ovelha Negra, um projecto de “fado urbano”. Carlos Maria Trindade foi executivo numa editora multinacional e gravou dois álbuns em nome próprio antes de se juntar a Magalhães como teclista dos Madredeus após a saída de Rodrigo Leão. Certo é que, mesmo depois da dissolução do projecto, os Heróis do Mar continuaram a ser uma força importante na moderna música nacional, apostada em elevar a fasquia da qualidade sem perder de vista o público nacional a que se dirigia. (in macua)
A banda surgiu em Março de 1981, na zona de Campo De Ourique em Lisboa, formada por Pedro Ayres de Magalhães, Pedro Paulo Gonçalves e Carlos Maria Trindade, após o fim do grupo Corpo Diplomático em finais do ano anterior. A estes músicos juntaram-se António José de Almeida (baterista dos Tantra) e Rui Pregal da Cunha, que se iniciava nas coisas da música. Na realidade, o futuro vocalista era o único membro sem algum passado com experiência musical, pois todos os outros elementos, ou tinham formação musical ou já haviam participado em projectos anteriores.
A escolha do nome «Heróis Do Mar», tirado do primeiro verso do hino nacional português, A Portuguesa, não foi um mero acaso, pois pretendia-se representar Portugal, a sua história e a sua arte greco-romana.
Numa época em que a memória do Estado Novo estava ainda muito fresca, o visual da banda, caracterizado por uma estética nacionalista e algo neo-militarista, e letras de canções que reflectiam a glorificação de um Portugal passado, não agradou a muita gente tendo-se instalado a polémica em torno do grupo, acusado dum nacionalismo exacerbado, e inclusivamente fascista e neonazi. Aliás, membros da banda afirmaram mesmo estarem proibidos de actuar a sul do rio Tejo.
Em Agosto de 1981, é lançado o primeiro single que continha os temas «Saudade» e «Brava dança dos heróis». Os dois temas aparecem no LP de estreia, Heróis do Mar, lançado em Outubro do mesmo ano.
Em Junho de 1982 é editado a canção «Amor», que contaria com a participação de Né Ladeiras nas vozes de fundo e que se tornaria um grande sucesso comercial e disco de platina, projectando a banda para a primeira parte dos concertos de King Crimson e de Roxy Music em Portugal no verão desse mesmo ano, e para a actuação nas primeiras parte da banda de Bryan Ferry em França.
Em 1983, o grupo lança o álbum Mãe, bem recebido pela crítica, mas não tão bem recebido pelo público. Entretanto, a canção também lançada em 1983, «Paixão», torna-se um sucesso de rádio, levando a revista musical inglesa The Face a considerar a banda como o melhor grupo de rock da Europa continental.
O visual neo-militarista deu lugar a um visual mais ousado, menos polémico, mas mesmo assim ainda demasiado arrojado para a época, com muito cabedal e calças de ganga rasgadas.
Os cinco músicos começaram a empenhar-se em projectos a solo, Pedro Ayres Magalhães assumiu a direcção da editora Fundação Atlântica, produzindo discos da cantora Né Ladeiras, da Anamar e dos Delfins. Heróis Do Mar colaboraram no último disco de António Variações Dar E Receber, no qual Magalhães e Trindade foram responsáveis pela produção e pelos arranjos.
O mini-LP intitulado O Rapto, lançado em 1984, continha o tema «Só Gosto De Ti» que conseguiu ter algum êxito. Em 1985 lançam o single «Alegria» que resulta num novo sucesso de rádio. Em 1985, surgiram rumores de que Rui da Cunha poderia vir a abandonar o grupo, o que não chegou a acontecer. Mudam entretanto para a editora EMI VC ou Emi-Valentim de Carvalho.
Em 1986 é lançado o álbum Macau, recebido com elogios por parte da crítica, que renovou o fôlego e o vigor do grupo. No ano seguinte lançam o single e máxi-single O Inventor. O último álbum, Heróis Do Mar, é editado em 1988 já sem a presença do baterista Tozé Almeida que tinha outros planos para si.
Mais tarde em 1989 decidem separar-se devido a conflitos internos. No entanto todos os elementos continuaram a dedicar-se à música, com excepção de Tozé Almeida, que acabou por se dedicar à produção de programas televisivos, publicidade e alguns telediscos.
A história da banda é revisitada no documentário Brava Dança por Jorge Pereirinha Pires e José Pinheiro. O documentário, diz a revista Blitz, «propõe ainda uma reflexão sobre Portugal e a música do pós-25 abril».
Actualmente, são influência chave para alguns projectos da cena musical portuguesa, dos quais o que obteve mais destaque foi o projecto editorial da Amor Fúria.
(in wikipedia)