A Banda Filarmónica de Santa Maria de Bouro nasceu à sombra do velho Convento Cisterciense, hoje pousada da ENATUR, sediado naquelas terras que constituíram o velho Couto de Bouro. As primeiras notas de música aprenderam-nas os jovens apaixonados nas aulas do Padre António Carlos Pereira, que atravessavam o Cávado de pé descalço. Fundou a Banda e foi seu primeiro Regente Manuel José da Silva Fecha, em 1858. Pelo número de peças musicais em arquivo com a assinatura do Fundador, apercebemo-nos do investimento feito na Banda durante a sua regência. Não há notícia da presença do padre António Carlos Pereira em Bouro, a serviço da Banda, mas não repugna que ele tenha estado presente na sua formação, até porque para ali seria frequentemente chamado para fazer pregações e solenizar actos do culto religioso.
O Padre Francisco de Almeida, republicano e antifascista nascido em Bouro em 1880, fala-nos assim do seu professor primário, que viria a substituir em 1928: “Manuel Gomes Ferreira foi colocado nesta escola por concurso e dedicava-se também à arte musical. Como em Bouro havia Filarmónica, logo tratou de se inscrever como componente da Banda de Música. No Verão, principalmente aos Domingos, sempre se lhe oferecera oportunidade de, à custa de duas clarinetadas, angariar mais uns tostões que sempre lhe dariam para uma merenda bem regada, de que ele parecia gostar”. Esta referência mostra-nos o interesse e a pujança desta Banda nos finais do século XIX e princípios do século XX. É possível que este professor também tenha ensinado música a alguns alunos seus.
Um regulamento de 1940, assinado por José Maria de Sousa, natural de Santa Marta, diz que este foi convidado pelos componentes da Banda para assumir a gerência da mesma. Pede-se humildade e respeito aos seus superiores. Seja qual for o estado do tempo, exige-se a comparência no local da festa ou ensaio. A primeira falta é multada com 5$00, a segunda com 10 e a terceira com a expulsão. Qualquer falta de respeito nos lugares religiosos não tinha direito a desculpa. Assinaram, em anexo, este convite de gerência o 1º Baixo Manuel José Gonçalves Laranjeira, o 1º Trombone António Joaquim de Sousa Amorim, o 2º Trombone João de Deus Gomes, o 1º Barítono Victor Manuel Arantes, o 2º Barítono Bernardino Quelhas, o 2º Cornetim Manuel Cantelães, o 1º Clarinete Adriano Pinheiro Dantas, o Bombo Horácio dos Santos Ribeiro, o Tarola Arlindo Manuel Arantes, e o homem dos Pratos Ermério Pereira Carneiro. Pela lista apresentada do instrumental, seria de 17 o total dos componentes da Banda.
A Banda de Bouro até 1963 prestou um contributo notável à cultura popular e religiosa, sobretudo no Distrito de Braga. A sua presença era usual nas festas de S. João de Braga. Mas as romarias da Senhora da Abadia, de S. Bento da Porta Aberta e da Senhora do Porto d’Ave eram palco contínuo das suas actuações. O Sargento António Ribeiro, também compositor, natural de Bouro, nas suas “Memórias”, diz-nos que enquanto ia esperando pela idade de ir para a tropa aprendeu música em clarinete, e ao fim de um ano estava apto a tomar parte nas festas com a Banda de Bouro. Isto em 1933. Relata-nos que a Banda executou em 1934 em Gualtar “O Rancho Grande” além de músicas populares e rapsódias.
Dois Regentes foram notáveis no período que antecedeu a letargia da Banda, em 1963. Foram eles Francisco Arantes e Artur José Soares. Este último tomou conta da Banda em Março de 1938, tirando-a do caos em que a tinha o Regente Francisco Manuel Arantes, que a abandonou e foi viver para casa de uma filha, em Porto de Ave. Artur Soares acedeu ao pedido de alguns músicos mais disciplinados como Adelino Afonso e Belizário José da Silva, continuando, todavia, como músico da Banda de Amares, com seus filhos Manuel e António. Até conseguir correcção e prestígio para a Banda de Bouro. Mas o mesmo Artur Soares interrompeu a actividade da Banda em Abril de 1967, por não ter podido resistir à indisciplina. Dá-nos notícia de vários pormenores desta Banda Manuel José Capela, no seu livro “Bandas Filarmónicas”.
O período de forte emigração contribuiu para o abandono da Banda, assim como o regresso ajudou à sua reconstrução. Os músicos dispersaram-se pelas Bandas vizinhas, principalmente Carvalheira e Vilarchão. Correspondendo a um anseio popular, José Amorim, Carlos Machado e João Baptista da Silva reactivaram a Banda com escritura pública de 25 de Outubro de 1999. Edmundo Soares ensinou novos músicos e regeu a Banda. Nascido na Banda de Bouro, passou muito tempo em Angola ligado à música e regressou à terra natal após a regência da Banda de Vilarandelo.
A Banda Filarmónica de Santa Maria de Bouro representou o Concelho de Amares em 2001, no Festival de Gavião – Portalegre. Esteve, em 2003, no Festival da Carregueira, Chamusca. Em 2005 e 2007, participou no Festival Internacional de Bandas Filarmónicas da Cidade de Tomar. Em 2006 participou no 1º Concurso de Bnadas Filarmónicas do Ateneu Vilafranquense em Vila Franca de Xira. Ainda em 2007, esteve presente no Festival de Vila Nova de Poiares. Para ajudar a refazer as memórias de Bouro, todos os anos oferece ao grande público o seu próprio Festival.
A estabilidade musical da Banda de Santa Maria de Bouro foi conseguida pelo Maestro Joaquim Vidal Santos, licenciado pela Escola Superior de Música do Porto, Mestrado em Estudos Músico-Teatrais – vertentente de Direcção pela Universidade de Sheffield, Inglaterra.
Um vasto património musical permanece em arquivo. Boa parte do velho instrumental em afinação brilhante figurará no futuro museu. Novo instrumental foi adquirido graças a sócios e benfeitores.
(in)