Fradique e António Mendes Ferreira, nasceram em São Tomé e Príncipe, respetivamente na Roça Ribeira-Peixe no sul do país (1987) e na capital São Tomé (1992).
Com a mesma mestiçagem que carateriza o povo Santomense, descendem de Cabo-verdianos, portugueses e angolares transportando em si uma diversa herança cultural que os conduziu à paixão pela música.
Frequentam a instrução primária em São João dos Angolares, capital do distrito de Caué, onde fizeram parte do grupocoral da Igreja de Santa Cruz dos Angolares.
Em 2009 procuram um nome mais curto e que tivesse um melhor significado e o escolhido mutuamente foi Calema. Calema significa uma especial ondulação na costa Africana, como as ondas ao chegar a praia trazem consigo sempre alguma coisa. Os Calema trazem : música, sorriso, emoções, cultura e o sol santomense.
Desde muito cedo participaram em vários concursos vencendo Lusartist e onde começaram a trabalhar o disco de estreia “Bomu Kêlê” (Vamos acreditar em crioulo). Disco repleto de surpresas em crioulo e em português, onde os Calema desafiaram-se compondo todos os temas do disco.
Estes dois rapazes surpreendem com o misto das suas vozes cristalinas, vozes puras, vozes potentes.
Onde eles passam nunca ficam desapercebidos, as suas personalidades humildes, músicos carismáticos, e por vezes chamados os anjos Calema.
“O segredo de um vencedor é acreditar na vitória e destruir barreiras com a fé”
Inverteram um destino de privações. Deixaram São Tomé com o sonho de serem músicos. Dia 13 atuam perante um Coliseu de Lisboa já esgotado
Fradique e António são dois irmãos santomenses, separados por cinco anos de diferença, que são um dos maiores fenómenos musicais em Portugal. Ainda se recordam de quando andavam na praia a jogar à bola ou na roça do avô a apanhar cacau. Transformaram um sonho improvável numa realidade absoluta. Numa altura em que já ultrapassam as 100 milhões de visualizações no Youtube, dizem que só querem servir de exemplo. O espetáculo que os Calema vão dar dia 13 no Coliseu de Lisboa é o primeiro de um artista santomense naquela sala. Neste momento vocês devem ser heróis nacionais! Fradique – [risos] De facto, somos muito acarinhados. Em São Tomé vamos na rua e toda a gente nos convida para entrar e comer qualquer coisa… Já há pais que dizem aos filhos para olharem para o que conseguimos. Qualquer dia são condecorados? Fradique – Nós só queremos ser um exemplo. Do sítio de onde vimos, há gente que passa por muitas necessidades e nós queremos mostrar que se pode concretizar os sonhos. Hoje já há pessoas em São Tomé que acreditam que é possível sair de uma zona desfavorecida e ultrapassar as dificuldades. António – É curioso porque os países vizinhos de São Tomé já falam muito de nós. No ano passado, estivemos numa escola em Moçambique com os estudantes a dizerem-nos que nós somos um exemplo para eles. Há pouco tempo estivemos na Guiné- -Bissau a tocar para 60 mil pessoas. Nós quebrámos barreiras que as pessoas não acreditavam serem possíveis. Este Coliseu acontece cedo demais para vocês? António – Não. Eu acho que nós nunca estivemos preparados para nada do que nos aconteceu. Nós é que nos fomos adaptando. Mesmo quando estávamos em São Tomé já era assim. Quando queríamos tocar e cantar, e não tínhamos sítios onde pudéssemos aprender, tivemos de nos adaptar. Víamos os músicos a tocar na televisão e imitávamos a posição dos dedos na guitarra. Como foi esse início em São Tomé? António – Os nossos pais tinham vários tipos de música em casa e nós começámos naturalmente a ouvir. Quando íamos para a praia ou para a roça, íamos sempre a cantar. As pessoas começaram a ouvir-nos e a dizer-nos que devíamos cantar juntos. Acho que foi aí que começámos a ganhar interesse pela música e por querer aprender a tocar um instrumento. E foi fácil conseguir instrumentos? Fradique – Não. Lá não havia instrumentos. Foi uma tia nossa, a tia Paula, que vem referida numa das canções deste disco, que nos emprestou uma guitarra. Nós não sabíamos tocar, claro! O primeiro a arriscar foi o António. António – Foi engraçado porque nós ficámos muito contentes, mas ficámos a pensar: “E agora, como é que isto se toca?” E havia escolas de música por lá? António – Não. Nem internet, nem livros, nem nada onde pudéssemos aprender. Às vezes ainda nos indicavam determinada pessoa que sabia tocar, mas depois chegávamos lá e ela não sabia ensinar. Foi um músico cabo-verdiano que um dia nos deu um papel muito velhinho que tinha uns acordes apontados. Com aquilo e com a ajuda de um DVD que tínhamos em casa é que começámos a tentar tocar. Mas era tudo muito de ouvido e muito improvisado. Até as cordas da guitarra eram feitas com fios de pesca e fios de aço dos travões do carro. Fradique – Quando começámos a cantar nos bares dos hotéis, todas as músicas que tocávamos era em ‘Lá’ porque não sabíamos mais nenhum acorde [risos]. Essa guitarra ainda existe? António – Sim, existe. Neste momento está guardada em França com os nossos pais. É uma guitarra de muito boa qualidade, já andou à chuva, já entrou na água, já apanhou sol em cima de uma chapa de zinco, e tem uma longa história. Nessa altura já pensavam na música para o futuro? Fradique – Não. Aquilo para nós era pura diversão. Acho que os nossos pais é que sentiam aquilo mais na pele. Lembro-me que uma vez estávamos a ir para a capital para cantar e o carro começou a meter fumo. Tivemos de viajar não sei quantos quilómetros com as cabeças de fora [risos]. E hoje como é que olham para esses episódios? António – Por um lado rimos muito, mas por outro olhamos para eles como ensinamentos. As dificuldades são algo que nos prepara para o futuro. Fradique – Nesse aspeto, acho que tivemos uma infância que nos preparou bastante. E a escola como é que era? António – Íamos para a escola às sete de manhã e regressávamos ao meio dia. Tínhamos a tarde toda livre, mas só ao fim de semana é que nos dedicávamos mais à música. Era quando íamos cantar nos bares. E como reagia o público? Fradique – Reagia bem. No início, como tocávamos mal, as nossas apresentações eram praticamente à cappella [risos]. Naquela altura, por acaso, soávamos bem [risos]. E um dia decidem vir para Portugal. São Tomé estava pequeno demais para vocês? Fradique – Sim. Tudo o que víamos na televisão era com uma qualidade que achávamos impossível. No início, uma simples fotografia tirada em São Tomé tinha de ser revelada em Portugal. Levava uma semana a chegar. E na música era a mesma coisa, era impossível atingir uma certa qualidade. E como os nossos pais tinham planos de sair de São Tomé, aproveitámos [ver caixa]. Entretanto transformaram-se num fenómeno: 100 espetáculos num ano e 100 milhões de visualizações. O que acham que trouxeram de novo? Fradique – Eu acho que não viemos trazer nada de novo porque aqui já há muita coisa. Eu acho que só viemos acrescentar. Eu acho que trouxemos um bom lado de sol, de calor e um enorme sorriso. Lembro-me que quando aqui chegámos, as pessoas falavam-nos muito na crise. Mas nós em São Tomé sempre vivemos em crise. Aqui o facto de termos um almoço, um pequeno-almoço ou um pedaço de pão com manteiga para nós já estava bom. O FESTIVAL QUE OS SALVOU Que idade tinham quando decidiram trocar São Tomé por Portugal? Fradique – Eu tinha 21 e o António 16. Vim para Évora e ele um mês depois para Lisboa. Na altura dedicámo-nos aos estudos e a música ficava para o fim de semana. Era a forma de alimentarmos o bichinho. António – Mas é preciso dizer que nós até nem tínhamos a ideia de sair tão cedo de São Tomé. Então o que é que apressou essa decisão de sair? Fradique – Foi um episódio muito curioso. Uma tarde eu estava na praia a jogar à bola e o António na roça do nosso avô a apanhar cacau. Entretanto, um primo nosso veio a correr ter comigo a dizer que o nosso pai tinha ouvido a notícia de um festival na capital e que ele ia tentar meter-nos lá dentro [risos]. António – Nós tivemos medo de sermos barrados à entrada porque não tínhamos convite, mas lá fomos. O meu pai continuava a dizer que nos ia meter no palco [risos]. Quando lá chegámos para o apresentar disse que o máximo que podia fazer era deixar-nos atuar quando chegasse a altura do intervalo. E assim aconteceu. O que é que cantaram? Fradique – Cantámos três músicas, uma delas o ‘Saudade’ de Cesária Évora. Por sorte estava lá a assistir precisamente o produtor da Cesária, que veio ter connosco a dizer que nos queria fazer uma proposta de um contrato. Acho que só aí, pela primeira vez, é que começámos a imaginar uma coisa maior. António – Sim, ali fez-se luz verdadeiramente
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A dupla Calema vai atuar esta noite de sexta-feira (31 de agosto) na Feira de S. Mateus. O duo de S. Tomé e Príncipe, formado pelos irmãos Fradique e António Mendes Ferreira, trará na bagagem até Viseu a herança cultural e a paixão pela música que os carateriza.
Conhecidos em Portugal por temas como “A Nossa Vez” e “Casa de Madeira”, Fradique e António começaram a carreira de cantores em França. De lá arrancaram com o fenómeno de sucesso global que coloca a sua música para o topo das canções mais vistas no YouTube – como é o caso de “A Nossa Vez”, que soma mais de 57 milhões de visualizações – e a banda sonora de telenovelas.
Com três álbuns na discografia, “A.N.V.”, lançado em 2017, foi o que deu mais notoriedade aos Calema. Agora, a dupla irá trazer à Feira de S. Mateus as melhores músicas do seu repertório. O concerto está agendado para as 22h00 no Palco Santander, com o custo de entrada no valor de três euros.
No palco #viseufolk, as atuações estão a cargo do Grupo de Cantares da Associação Cultural, Recreativa e Social de Pascoal às 18h30 e do Rancho Folclórico Verde Gaio de Lordosa às 19h30.