Ateneu Artístico Vilafranquense, Vila Franca de Xira, Bandas de Lisboa, distrito, Bandas Portuguesas, bandas Filarmónicas, Orquestras sinfónicas, Contactos, Banda de Musica
Ateneu Artístico Vilafranquense, Vila Franca de Xira
4 Outubro, 2016
Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Banda de Almada, Distrito de Setúbal, Bandas de Musica, Bandas Filarmónicas, Bandas Portuguesas, contactos, Incrível Almadense
Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, Almada, Distrito de Setúbal
4 Outubro, 2016

Sociedade Filarmónica Palmelense, Loureiros, Palmela, Banda, Setúbal, Banda Os Loureiros, Bandas de Musica, Bandas Filarmónicas, contactos, bandas Portuguesas

Sociedade Filarmónica Palmelense

“Loureiros”

Em Outubro de 1852, nasceu a Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros”, materializando-se assim um projecto ambicioso que ao longo dos anos enriqueceu e desenvolveu o património cultural, artístico, recreativo e desportivo de Palmela.
Hoje os “Loureiros” contam com mais de 150 Anos de magia cultural, recreativa e desportiva, século e meio de sonhos, de passado e estímulo com o futuro. A Sociedade Filarmónica Palmelense – Loureiros, chegou até aos dias hoje, com uma vitalidade própria da sua juventude e a experiência da sua idade, estando-lhe reservada um futuro que se pretende de grandes êxitos e sucessos.

Somos uma Colectividade que tem sabido servir Palmela, adaptando-se ás realidades dos tempos, de uma forma continuada, tentando de algum modo acompanhar o progresso verificado um pouco por todo o lado.

Os Loureiros têm contribuído largamente para o cumprimento destes objectivos, através da promoção e da cooperação das suas actividades, não só na nossa Região, mas igualmente por todo o País e por vezes no estrangeiro (Espanha, França, Áustria, Holanda, Bélgica), acompanhando sempre de perto as questões ligadas ao Movimento Associativo.

Filarmónica Palmelense

Os Loureiros é uma Instituição reconhecida a vários níveis o que nos permite afirmar que Ela nasceu para ficar, para ficar e para progredir. Para progredir enquanto houver uma tomada de consciência quanto ao seu dever de partilhar o conhecimento, não sendo uma tarefa difícil, principalmente para todos aqueles que sempre se disponibilizam, para trabalhar, para dar o seu contributo e para dar o seu saber, pelos Loureiros e por Palmela.

Gente que continua a dar de si, para os Loureiros, de um modo desinteressado, muitas vezes e quase sempre com prejuízo da sua vida profissional e familiar, mas sempre no interesse e no engrandecimento desta Casa. É com gente deste calibre que se tem feito mais de 150 anos de história cultural, loureiros que amam a música e as suas raízes, e que desejam transmitir este sentimento a quem os escutam.

Ao longo de mais de século e meio, ficaram pelo caminho muitos amigos, mas a insatisfação inesgotável dos Loureiros, desbravará certamente outros caminhos e novos sucessos.

Uma palavra final, de elementar justiça, para a persistência e para o entusiasmo de todos aqueles que contribuíram para manter-nos mais unidos, convidando-os a todos a desfrutar do convívio e estreitar os laços de amizade entre todos os Loureiros e a participar na continuidade e no futuro da mais importante Associação Cultural, Recreativa e Desportiva de Palmela.

Historia das Músicas em Palmela

Abrange ella as eppocasde1852 a 1917

(Texto apresentado na sua grafia original)

— PRÓLOGO —

Conscio de que prestamos um bom serviço aos nossos foturos successores, abaulançámo-nos a fazer a árdua historia das musicas em Palmella, embora longe de julgar-mos ficar obra perfcita, erudicta e digna; isso não, por nos escassear a competencia e aptidões literarias, nem tão pouco ternos pertenções a sabichão. A esta nossa idea, unicamente presidio a precisão de alguma coisa haver escripta sobre o assumpto, podendo esta historia ser dotada com outros dados, por nós desconhecidos, e ampliada por quem dos nosso vindouros tenha mais instrucção, geito e feitio. Com quanto ella vá cheia de verdade, vae todavia despida de frazes rectoricas; unicamente escripta em linguagem chã tanto quanto o nosso humilde saber nos faculta; e assim poderá ella ser muito bem um dia digna de abrilhantar uma bõa collecção de bons livros se mão prestigiosa a pôr em condicções déssa dignidade. Bem podia ella ser escripta pelos doutos fundadores da musica n’esta Villa, mas não o tendo sido, fisemos nós o que podémos, já por estar-mos de posse do livro das actas da primeira phylarmonica, como por termos recebido vastas explicações dos respectivos fundadores, tomando além d’isso nós parte das restantes sociedades e assistindo com interesse patriotico a quanto néllas se tem passado. Julgámos por tanto honrar a nossa terra com esta simples descripção, havendo da nossa parte apenas o sentimento patriotico, dando desses factos conhecimento aos nossos vindouros. Acha-se n’esta execução explicados os principaes casos decorridos nas filarmonicas desde de 1852 a Junho de 1917 e se nesta modesta resenha empregamos toda a verdade ao nosso alcance, não deixaremos tambem de fazer-mos as nossas apreciações e falar-mos tambem com alguma ironia para diversos caso picarescos por que passaram as phylarmonicas nas suas diversas fazes, e que se alguem se julgar melindrado com o possivel rigôr das nossas apreciações, que se convençam que não tivemos a minima intenção de ferir seja quem fôr, pois conscienciosamente confessamos que apenas tivemos bôa vontade de esclarecer e julgar a historia de que patrioticamente nos ocupamos. certos que os benévolos leitores nos desculparão porque n’esta complicada descripção não admirará que qualquer termo melindre susceptibilidades não havendo todavia intenção. Ao desempenhar-me de tão espinhoso encargo, só para elle peço a henevolencia dos nossos conterrâneos, certos de que a nossa intenção é inofensiva.

– CAPITULO PRIMEIRO –

Em 1852 constituio-se nesta Vila de Palmeila a primeira agremiação musical. Antes d’essa data vinham aqui guerrilhas de Setúbal acompanhar as procissões a convite dos respectivos mesários, mas essas guerrilhas apresentavam um aspecto tão inferior que se tornavam ridiculas e irrisória, accresendo a inferioridade da execução. Essa importante circunstancia, suscitou aos grandes desta nobre e antiga terra de bellas tradicções históricas, o desejo de se organizar aqui a primeira phylarmonica. Não obstante, ali pelos annos de 1848 a 1852 começara aqui a vir uma pequena banda a que chamavam “Voluntarios da Guarda Nacional” que melhor satisfazia do que as transactas, a qual era dirigida pelo afamado professor de música por nome “José Cypriano Arronches” que veio a ser avô materno do illustre setubalense sr. António Casimiro Arronches Junqueiro. Essa suposta banda viéra para Setúbal com a guerra da Patuleia cujo golpe decisivo teve logar na Serra do Viso em 1 de maio de 1847 dando a victoria às forças da rainha D. Maria II.. O referido professor, pessôa muito, delicada e attenciosa, com facilidade conquistou as simpatias dos palmellenses, de que resultou, que em determinada occasião, se conversasse sobre a possibilidade de se formar aqui uma phylarmónica dirigida pelo mesmo Senhor Arronches, convite que lhe foi feito e a que elle prontamente accedeu. Foram tão satisfatorias as deligencias empregadas, que no dia 25 de Outubro de 1852 se realizou uma reunião em casa de Joaquim José Corrêa, na rua de St.° António, cuja sessão fora pelo mesmo Sr. José Cypriano presidida, ficando desde logo ali fundada a respectiva associação musical com o titulo de: “Sociedade Philarmonica Palmellense” de que se lavrou a competente acta que é do teor seguinte: “Acta da instalação da Sociedade Philarmonica Palmellense e da nomeação da Commissão adinnistrativa da mesma – Aos vinte e cinco dias do mez d’Outubro do anno de mil oitocentos cincoenta e dois, e casas da residencia de Joaquim José Corrêa, onde se achavam reunidos os Snrs. Antonio Carlos dos Santos, Antonio Joaquim Pinto, Claudio Benedicto dos Santos, Feliciano Marques Guerreiro, Francisco Fernandes, Francisco José Pardelha, Joaquim José Corrêa, Joaquim Nunes da Silva, Joaquim Thomaz Ferreira. José Ferreira Sardinha, José Maria Baptista, Leopoldo Ferreira Peres, Luiz Ignacio de Mendonça, Miguel Carlos Maria da Silva, Salvador Augusto Rodrigues, e Francisco Augusto de Paiva, a fim de formarem uma sociedade Philarmonica Marcial e que para isso se tinha convidado para seu director a José Cypriano Arronches, professor de musica e morador na Villa de Setubal, o qual achando-se tambem presente, tomou interinamente a presidencia e nomeou tambem interinamente para secretario o Francisco Augusto de Paiva, e houve por constituida, formada e instalada a “Sociedade Philarmonica Palmellense” visto ser esta a openião unanime de todos os socios reunidos n’esta assemblea; igualmente disse que para o bom regímen, andamento e administração desta nova sociedade, era mister que todos os socios d’entre si nomeassem uma commissão administractiva a qual teria gerencia em todos os negocios da Sociedade até se formarem os Estatutosque devem regêl-a e que elle iha propôr à sociedade os seguintes socios para a compôrem — Presidente, Antonio Carlos dos Santos, thesoureiro Antonio Joaquim Pinto, secretario Francisco Augusto de Paiva; vogais: Francisco José Pardelha e Salvador Augusto Rodrigues, cuja proposta sendo offerecida à consideração sa Sociedade foi unanimemente approvada; e logo em seguida houve o dito Presidente interino por forma instalada a commissão Administractiva d’esta Sociedade. E para constar mandou lavrar e acta que depois de lida, por todos os socios foi aprovada e assignada pelo presidente e por mim Francisco Augusto de Paiva, secretario interino que a escrevi. – José Cypriano Arronches – Francisco de Paiva.” – As lições aos aprendises tiveram logo o seu inicio ás quaes prestáva grande coadjuvação o sócio Joaquim Gualdino d’Almeida, cantor, e antigo músico d’Azeitão. Após alguns meses, encetaram-se os ensaios na casa que foi de João José Salgueiro, situada non Largo – da Bôa-Vista e na noite de 23 de junho de 1853, o director expôz á Direção que a sociedade se achava habilitada para poder realisar a sua primeira saida podendo desde logo marcar-se o dia que ella deveria ter lugar. A Direção em convivio com os socios, congratulou-se por esse facto e logo foi deliberado ser no dia de São Pedro, 29 de Junho désse mesmo anno. As manifestações de regosijo foram geraes pois que todos almejavam por essa inauguração. Effectivamente, no dia 29 de junho de 1853 a sociedade envergando o seu luxuoso fardamento de veludo verde e encarnado, sahio da séde para a Igreja executando pelas ruas um passo doble da composição de seu mestre, e na Igreja extreiou o seu himno, do mesmo autor, o que commoveu o pôvo até às lágrimas por ouvir na Igreja tocar pela primeira vez uma musica propriamente sua. Foi com immensa razão que a povoação se alegrou por ver levado a effeito aquelle empreendimento que os seus antepassados não lograram gozar; recreio d’onde dimanava a alegria e o progresso.D’entre aquelle punhado de benemeritos que levaram á evidencia a melhor aspiração d’aquelle povo, salientava-se a figura grandiosa de António Carlos dos Santos, o principal luctador para ver realizados os seus sonhos; esse grande homem de sciencia apesar da sua diferença entre os mais, não teve duvida em se alistar como aprendiz, tomando-se colega humilde entre os seus collegas amigos. Não era menos patrióta outro fundador, grande amigo desta Villa (onde nasceu) o sr. Miguel Carlos Maria d’Almeida e Silva prestimoso em tudo – Sim as virtudes daquelles ilustres homens de bem é que levou a vias de facto esse engrandecimento para a sua terra, os quaes com justificada razão, devia ser aquelle dia para elles um dos melhores da sua vida.N’esse dia pois, a sociedade saindo da Igreja tocando, dirigio-se para a Quinta do piloto onde foram deliciar-se com um opiparo jantar de inauguração, cosinhado pelo destincto culinario Luiz Ignacio de Mendonça Furtado. Eram tocantes nesse dia os seguintes senhores: o Director, José Ferreira Sardinha, José Maria Cordeira, Francisco Augusto de Paiva, Antonio Carlos dos Santos, Miguel Maria, Joaquim Thomaz Ferreira, João José Trinca, Joaquim Gualdino d’Almeida, Francisco José Pardelha, José Bruno, Joaquim J. Brazão, Joaquim Nunes da Silva, Leopoldo Ferreira Peres, Luis Inacio Junior, Salvador Augusto Rodrigues, José Maria Baptista, Feliciano Marques Guerreiro, Antonio Pardelha, Antonio Carlos de Andrade e Joaquim dos Santos Venancio. Mais tarde entraram mais os seguintes aprendises: João Augusto dos Santos, José d’Oliveira, José de Moura, Joaquim Mathias Pereira, Julio Augusto Coelho, Manuel Marcellino, Isidoro Faustino, Firmino Peres, José Carneiro, Joaquim Cabica (pae), Joaquim Martins e Manuel Lopes, etc.A sociedade foi fazendo os seus progressos, festejando no anno seguinte o seu anniversario na quinta do Carvacho e no outro, na Quinta do Anjo, tendo já a esse tempo elaborado e approvado os seus “Estatutos”. Em 1855, resentio-se pela brusca saída do nosso concelho para Setubal. Em 1856 foi esta villa assolada pela epedemia do cólera morbus roubando à sociedade a sympathica figura de Francisco Augusto de Paiva, o qual era uma grande esperança em clarinete; n’esse mesmo anno coube a vez tambem a outro tocante de clarinete: Luiz Ignacio (filho) que, receiando ser vitima do cólera foi victimado pela febre Amarela em Lisbôa; depois seguio-se-lhe o belo corneta de Chaves, João Trinca, e o caixa Joaquim da Venancia. Em 1857, 58 e 59 poude a Sociedade levar a effeito a função dos Reis de visita ao presepio, de cujas solemnidades foi o seu primeiro fautor, Miguel Maria da Silva, festejos como nunca houveram iguaes e que trasia de fora centenas de forasteiros a admirar a sympáthica manifestação. Esta terra elevou-se no seu timbre por tão faustuosas festas, as quaes dão ainda saudades aos sobreviventes desse tempo – A este tempo a Sociedade já tinha novo uniforme que constava de frake preto, boné da mesma côr e lira amarella. Nesta altura sáem por divergencias, Francisco José Pardelha e Joaquim Nunes da Silva. Em 1862 falece um dos melhores elementos da Sociedade, Joaquim Gualdino d’Almeida, sentindo-se muito essa morte inesperada. Em 1864 dá-se uma verdadeira derrocada que deixou mal ferida a Sociedade não podendo dar pio durante tres annos.Foi o caso que, havendo uma corrente de philarmonicos que manifestara-se contrarios á presistencia de José Cypriano na regencia, o que trazia á Sociedade uma despesa de certo volume, desejaria aquelle grupo, (que fazia maioria), que em lugar do mestre ficasse José Ferreira, filho da terra e já experimentado musico, cujas habilitações as obtivera em Setubal onde trabalhava de “Marceneiro”. Realmente por iniciativa daquella maioria realisou-se uma reunião extraordinaria para esse fim, sendo delegado d’esse grupo Leopoldo Peres o qual expôz a razão d’aquele descontentamento. O Presidente, António Carlos dos Santos, não approvando as razões apresentadas, Disse: que ao Snr. José Cypriano se deviam os progressos porque a Sociedade tinha passado. Não tendo coragem para propôr ao mestre o seu despedimento. Apenas podia fazer o seguinte: era despedir-se da Sociedade e o grupo que encarregasse o novo Presidente d’essa ingrata missão – A isto seguio-se um certo rumor levantando-se todos como se uma mola os movesse, pondo todos os chapeus nas cabeças. As portas fecharam-se ficando lá dentro a pancadaria e alguns instrumentos. (Acta de 13 de Setembro de 1864).Essa divergencia, coincidira com a eleição do Dr. Annibal para deputado, dizendo-se que, quando esse candidato viesse a esta Villa sollicitar as influencias eleitoraes a musica iria esperal-o. A referida maioria alegara como desculpa, não querer ir tocar atraz de rabos de cavallos. O propôsto deputado chegou, mas a musica não compareceu; reunindo-se muita gente para receber o futuro deputado, erguende-se um arco triumphal enfeitado de louro no largo do municipio; e o facto de não ser esperado pela musica, mais acirrou os animos ficando paralisado o funcionamento da Palmellense.

II

A maioria dessidente não pensára de forma alguma em formar uma nova sociedade. mas as noites passavam-nas em conjecturas dando cada um voltas á mioleira sem saberem como haveriam de desatar o nó górdio. Porém um membro, talvez mais parafusador, acercou-se um dlia do grupo e lhe propôz que seria bom ir-se ter com o Pardelha a expôr-lhe o que se passára na sessão e convidando-o para presidir à Sociedade, levando-se a effeito a nomeação de José Ferreira; convite que elle Pardelha aceitaria visto estar divergente de Antonio Carlos dos Santos. O alvitre foi apoiado e nessa noite acercando-se de Pardelha lhe expuseram os factos a que elle sorrio envaedecido; mas corno macaco que era não aceitou o cargo sem que se valesse de apresentar uma chiméra que foi a seguinte: Não teria duvida em acceitar o espinhoso encargo mas há ahi uma dificuldade a vencer, tal é a falta de casa para n’ella se ensaiar – Ao pequeno argumento acudir logo o membro João Augusto dos Santos expondo que já tinha falado n’isso a seu pae e da melhor vontade cedia a casa, onde residia para esse fim. O sr. Pardelha esboçando novo sorrizo e prevendo que com a acceitação ia dar um chéque no seu antagonista de quem estava afastado há cinco annos disse: bem, aceito, mas torna-se necessário fazer-se uma reunião de todos os elementos favoraveis á causa a qual pode ter logar no dia 8. Effectivamente no dlia 8 de Outubro de 1864, não tendo faltado ninguem dos afeiçoados, o Sr Pardelha presidio á assemblea declarando que o fim da reunião era para se formar uma sociedade nova mas não reorganizar a velha, devendo ella ficar alli fundada e com o seu competente titulo. Alguns dos assistentes entreolharam-se desconfiadamente. porque não era esse o verdadeiro fim da reunião, todavia esses ficaram em silencio mas depois da nova musica formada d’ella não quizeram fazer parte; taes foram, Leopoldo Peres, Feliciano Marques, Isidoro Faustino, Joaquim Cabica, Joaquim Brazão, etc. Bem, a sessão seguira approvando-se que o título fosse: “Sociedade Philarmonica Humanitaria e Independente”. A Direção foi nomeada ficando o Sr. Pardelha na presidencia e. José Ferreira nomeado para director como combinado, declarando este senhor que aceitava e agradecia, accrescentando, que prestaria todos os seus serviços de graça durante um anno. Foi declarado pelo presidente que iria a Lisbôa fornecer-se dos instumentos necessarios e expôz mais, que era seu desejo que a Sociedade fisesse a sua primeira saida no dia de Todos os Santos (1 de Novembro do mesmo anno) e que n’esse dia a Sociedade sairia da sua séde para a Igreja, regressando em seguida para uma sua casa no Páteo da R. do Chafariz. Aqui se confirmou a chiméra apresentada quando no principio, porque o Sr. Pardelha não era homem para se preocupar com ninharias; fel-o porque era viváz e não queria que se dissesse que estava suspirando pelo penacho. Realmente, no dia 1, realizou-se a saida com certo enthusiasmo congratulando-se o povo por não ter acabado a musica em Palmella; e lá se foi instalar na nova séde onde se conservou até 1892 (data em que a casa já era de novos possuidores, os quaes puseram a Sociedade fora por divergencias eleitoraes.) Os factos foram decorrendo progressivamente tendo o Sr. José Ferreira composto um hymno que se tornou agradável, enriquece o mesmo director o seu archivo com peças de comprovados auctores, que deu em resultado a Sociedade fazer bôa figura. O Sr. Pardelha como presidente foi muito apreciado pelo zelo que sempre mantêve no rigor do vestuario dos musicos, rccorrendo a todos os meios possiveis para que a sociedade progredisse, e persuadindo-se que tinha feito morrer a Palmellense, o que não sucedeu. Porém como não há bem que sempre dure nem mal que se não acabe, em Setembro de 1865 houve rompimento de relações entre o director e o presidente, de que resultou a saida do Sr. José Ferreira. Foi o caso que, estando a sociedade comprometida para prestar o seu concurso n’uma festa d’arraial no Bonfim, em beneficio d’uma instituição. quando a Sociedade ali chegou, notou-se ter esquecido levar o repertorio que a Sociedade devia executar. Houvendo por isso certa contrariedade: caso que o Sr. Pardelha immediatamente remediou mandando um creado a Palmella, montado a toda a pressa, buscar a respectiva mala. Todavia o Sr. Pardelha não deixou de verberar bem a falta como tendo sido propositadamente feita pelo Director. Este, offendendo-se com a injusta referencia, no fim da festa deu a sua demissão de mestre. O sr. Pardelha logo afirmou à sociedade que não estaria muito tempo sem regente, o que sucedeu com a vinda do contramestre da banda de caçadores 1, ficando o Sr. José Ferreira na disponibilidade. Não logrou o Sr. Martins permanecer muito tempo à testa da sociedade por lhe sobrevir morte prematuramente; todavia, dotou a Sociedade com um hymno original que ainda hoje é usado como “o seu hymno” tendo o Sr. Martins podido apenas fazer uma saída que teve logar no domingo de Paschoa do anno de 1866 executando-se uma simples contradança de nome “a Jardineira” mas cuja saida produzio enthusiasmo geral. Fôra convidado para aquelle logar o Sr. Leocadio Pedro Albino, o qual além de musico bastante pratico, exercia o cargo d’enfermeiro do hospital da Misericordia de Setubal. Não seria elle como mestre, tão profundo em musica como o Sr. Martins, mas fez sempre uma respeitavel figura, dispondo de recursos e muita actividade, pelo que por muitos que o admiravam, era considerado como “o impagavel Leocadio”. Fez a sua primeira saida, com um ordinario de cometas, à primeira tourada dada pelo sr. Pardelha, na Praça de S. João, em 1866 e logo á outra tourada no mesmo anno, estreiou novo ordinario, que à quem diga que ainda não vira melhor, sucedendo que fôra elle tão apreciado, que, comnosco dá-se a circunstancia de podermos ainda cantal-o todo, provando essa circunstancia a beleza de que elle era revestido, não obstante prefazer 51 annos que foi tocado. Foi seguindo brilhantemente o sr. Leocadio apresentando bôas peças das quaes se salientaram: “As Guardas da Rainha” (quadrilha de valsas) e um lindo Pouporri com cantos populares os mais popularissimos. Logrou obter um bello sexteto de musicos que lhe evitava qualquer descalábro em público. Esse sexteto, grato nos é dizer, era composto dos habeis executantes: José d’Oliveira — bombardino— Joaquim Martins — cornetim — João Augusto dos Santos — requinta — Joaquim Mathias Pereira — contrabaixo — Manuel da Rosa — clarinete e José Luiz Camolas, trombone. Mas não deixaremos de mencionar mais uma figura de destaque que naquelle tempo tambem fazia parte da musica; Sabem quem era? Era o homem do bombo, Sr. Antonio Pedro Rato! Que vivacidade elle tinha e que grande era o seu enthusiasmo ao executar a sua parte que quasi fazia a baze fundamental da banda! Quanto elle se aprumava e alegrava quando lhe diziam que elle era ali o fiscal da obra!… Era bom socio e bom amigo; a nós nos cortejava como se fossemos do tempo d’elle! Que pena ter secumbido ao rigor d’uma dolorosa doença, tão moço!… A Sociedade deixou de usar da palavra “Independente” sem duvida por se ver forçada a ir por dinheiro às festas, sendo na regencia do Sr. Leocadio que isto sucedeu; tendo a sociedade por uniforme: Frake e bonnet pretos, com lira branca, sendo o colete azul de botões amarellos e calça branca, ou preta. O Sr. Leocadio Fôra por vezes substituido na sua impossibilidade pelos mestres: Santisima [?] e Caçar, tendo este ultimo composto um hymno em homenagem ao Sr. Pardelha, hymno que teve vida efémera, pois que fôra em 1879, que se afastáva da vida activa e da política o Sr. Pardelha para tratar da sua saúde abalada por diversos desgostos.Não deixaremos de deixar aqui registado os dotes de coração de que era dotado aquele exemplar presidente. Não queremos que tenha havido quem mais zelo sentisse pela sua Sociedade, sacrificando-se até ao impossivel para que ella se apresentasse imrepreensivelmente em toda a parte. O seu capricho era inescedivel, chegando elle proprio a compôr as gravatas dos musicos e sendo vulgar oferecer objectos seus para não destuar a uniformidade. Pena foi os consocios se esquecerem de tantos carinhos despensados e de tantos sacrificios feitos para os mesmos brilharem, porque quando foi do ajuste de contas e elle ter de se retirar d’aquele labôr tão insano, elle sofreu algumas accusações que se não justificaram, que, mesmo a serem razoaveis não se deviam ter esquecido tantas affeições despensadas durante 16 annos! Esses rumores, talvez injustificados, muito o desgostou, de que resultou que um homem cheio de vida e actividade lograsse só viver 6 annos depois dos factos referidos pois que em 26 de Junho de 1885, morre em sua casa na R. Hermenegildo Capello, fazendo-se representar a Sociedade no seu funeral por um reduzido numero de musicos; tinha apenas 64 annos d’edade… Seguiram-se outros presidentes que conquanto fisessem por serem melhores. nenhum logrou chegar à envergadura do Sr. Pardelha. Não há duvida que diversos se esforçaram por auxiliar a vida da Sociedade como fôram: o Sr. José d’Oliveira que com outros doou à Sociedade o coreto que lhe tem servido; como também o Sr. João Augusto dos Santos e Firmino Cardoso, que dotaram a actual casa da sociedade de uma luxuosa illuminação áccetyléne enriquecendo-lhe o respectivo theatro de scenario primoroso.Em substituição do Sr. Leocadio, vieram os senhores, não menos habeis no seu mister: José de Matos (de saudosa memoria) Antonio Julio da Costa Reis (de recordações saudosas) e o Sr. Nunes. contramestre em Infantaria 11, actual artista de merito e superiormente classificado.Foram diversos os fardamentos novos estreiados por esta sociedade especialisando os de capacetes e o actual, onde perdomina o veludo vermelho, o que tudo conjugado prefaz um uniforme vistoso e luxuoso. Quanto ao conduzir-se na execução do seu vasto reportorio, portou-se sempre superiormente. Não podendo nunca ser suplantada por outras suas congéneres, o que nos cumpre registar.

III

Reportando-nos ainda à Palmellense, justo é seguir-lhe os passos para alcançar-mos o desideratum a que nos propuzemos.O sr. José Silvestre Ferreira Sardinha, afastado da Humanitaria desde 1865 teve logo em mira ir procurar o nucleo que da Palmellense estava estacionario, ao mesmo tempo que esse nucleo animado do mesmo sentimento se achegára para o Sr. José Ferreira, sem duvida com fins musicaes. E tanto forjaram e combinaram que em 1867 (em 9 de Junho) teve logar na casa da câmara onde a Palmellense ensaiára, uma reunião de socios que ainda se conservavam unidos à Palmellense e cuja acta déssa sessão é do theor seguinte: – Acta da sessão de 9 de Junho de 1867. – No dia nove de junho de mil oitocentos sessenta e sete, na sala do theatro. estando reunidos os senhores: Prior, Antonio José do Costado, Caetano da Paz Brandão, Joaquim António Paula Athaz, Antonio Carlos dos Santos, Feliciano Marques Guerreiro, Joaquim José Brazão, Joaquim José Correia, Sezinando Augusto da Silva, Joaquim Thomaz Ferreira, José Fernandes, José Silvestre Ferreira Sardinha, Isidoro Augusto de Carvalho (Faustino), Leopoldo Ferreira Peres, Manuel Diniz, Manuel Peres Gonçalves, Salvador Caetano da Costa e Salvador Augusto Rodrigues; os quaes todos tinham acedido ao convite que se lhe fez como socios da Sociedade Philarmonica Palmellense, creada em 25 de outubro de 1852. A qual por divergencias dalguns socios que a compunham se tinham desunido indo uma grande parte formar uma outra sociedade, e sendo da vontade dos antigos socios, que ficaram na minoria, restabelecer de novo a Sociedade Philarmonica Palmellense, por isso tinham convidado todos os presentes para esse fim. E tornando a presidencia Reverendo Sr. Prior Antonio José do Costado, e os lugares de secretarios Antonio Carlos dos Santo e Caetano da Paz Brandão; pelo sr. presidente foi dito que a primeira coisa a fazer era nomear uma direcção para esta intervir nos negocios da Sociedade e que precisando os Estatutos feitos em 13 de Novembro de 1853 algumas alterações nos capítulos de que se compõem e mesmo addicionamento d’alguns novos para o bom regimen da Sociedade, propunha que os membros da nova direcção fizessem as alterações e addicionamentos que os antigos estatutos precisassem e que depois fosse convocada a Sociedade para em vista dos mesmos estatutos assim alterados e modificados sofrerem as alterações que se julgasse convenientes. Esta proposta foi approvada. E procedendo-se á eleição da direcção por escrutinio secreto, sairam quasi por unanimidade eleitos, para Presidente: Antonio Carlos dos Santos, Thesoureiro, Joaquim José Correia, secretario. Leopoldo Ferreira Peres; os quaes foram pelo sr. presidente proclamados membros da direcção da Sociedade. E não havendo nada mais a tratar; levantou a sessão e mandou, para constar, lavrar esta por mim, Antonio Carlos dos Santos que a escrevi.” Em virtude pois das ponderações ali exaradas, evidentemente se patenteia que a Palmellense teve um interegno que não poude funccionar por falta de pessoal, mas logo que o obteve proseguio na sua faina com o mesmo titulo, a mesma direcção, o mesmo livro d’actas, a mesma bateria e o mesmo uniforme, presidindo a esta sessão o mesmo presidente que presidio á sessão da fundação. Poderia haver duvidas sobre qual é a Philarmonica mais antiga se a Humanitaria seguisse com o nome de “Palmellense mas não o fez, porque criou uma nova sociedade, e tanto mais que aquella não se déra por acabada, mas sim reservando-se para melhores dias poder continuar a sua carreira. E por ser-mos nós o mais interessado em estabelecer aqui a verdade dos factos, debalde haverá alguem que ouse dizer que desviamos o fio da historia; nunca o fariamos, já que por isso não vinha interesse algum fosse para quem fôsse, nem nós ficariamos bem colocados para com o publico e sobretudo com a nossa consciencia. E demorámonos mais tempo n’estas considerações, porque já algures alguem nos queria convencer que a Humanitaria era a mais antiga. Prosseguindo no nosso relato diremos, que José Ferreira não tendo sido acolhido como mestre por pequeno número na historica sessão de 1864, foi agora abraçado por unânimidade chamando-se a isto: as voltas que o mundo dá. E ainda bem que tudo isso se deu, porque assim ficou a povoação com duas sociedades (ganhando moralmente tambem o Sr. José Ferreira) pois que bem melhor se custeia duas do que só uma, por lhe faltar o estimulo.José Ferreira de posse da batuta, começou por trabalhar com vocação; bem sabia elle que se ia defrontar com um colôsso já criado de quem havia de receber rudes ensinuações e talvez bastos desgostos. Mas consultando a sua consciencia, vio que tinha de ir para a frente, não se esquecendo do rifão que diz: “Quem se sujeita a amar, sujeita-se a padecer”. Lançou-se pois no caminho do dever proseguindo na lucta, na esperança de suplantar a sua adversária. Essa esperança alliada à sua indole trabalhadora lhe deu alento e só depois de velho e cançado, depôz a penna.Seguio nos ensinamentos e na obtenção de elementos precisos para pôr a sua obra em prática, e na proxima semana Santa (1868) logrou ver coroados os seus esforços acompanhando a procissão do Enterro com uma linda composição intitulada “Pomba e Saudade” alusiva ao funeral da Rainha D. Maria Segunda, onde a pomba pousando no féretro, acompanhou o cortejo funebre até a S. Vicente. A mimosa poesia feita pelo poeta Francisco Gomes d’Amorim sugerida ao maestro Francisco Norberto dos Santos Pinto, a referida composição musical de que José Ferreira se valeu e de que obteve os mais lisongeiros resultados. (No fim desta historia, ira transcripta a sobredita poesia.) Eram tocantes n’essa sahida os senhores: José Ferreira, Sezinando (do Francisco Filipe) Leopoldo Ferreira Peres, Isidoro Salgueiro, Salvador da Iria, Joaquim José Corrêa, Feliciano Marques, Salvador Rodrigues, Joaquim José Brazão, Joaquim Thomaz Ferreira, Isidoro Faustino, Joaquim Cabica e Antonio Cabica; Trese figuras apenas, e proseguindo progredio sempre. Os seus incançaveis esforços tocaram as raias do heroismo. A sua presistencia e assiduidade produziram frutos, incalculaveis dos quaes toda esta povoação disfrutou. A lucta com a sua antagonista foi sempre encarniçada desde 1867 até 1880 epoca em que se retirou para Condeixa a ensaiar com lisongeiras garantias, deixando a substituil-o o seu contra-mestre, Francisco Baptista Pacheco, e de cuja terra se encarregara de lhe enviar as musicas necessarias; trabalho insano que só terminou com a saída do Sr. Pacheco da Sociedade, o que coincidio com a vinda do Sr. Francisco Pedro Fernando em 1885.Sem sair-mos do verdadeiro assumpto, permita-nos ainda que aqui deixêmos exaradas as nossas impressões sobre os meritos e qualidades do Sr. José Ferreira, julgando justas as nossas apreciações pelo muito que produzio e o muito que a todos fez gosar. Esse excepcional homem, foi um verdadeiro achado para a Sociedade, porque além dos muitos dotes que possuia, de vocação e de trabalho, era um verdadeiro incyclopédico, pois que de tudo falava e de tudo sabia discutir com acerto. Como filho de Palmella foi indubitavelmente (como musico) o que mais serviços prestou à sua terra. O valor do Sr. José Ferreira, nem todos o quizeram reconhecer derivado talvez dos resentimentos partidarios! Podia ser, mas julgámos isso um pouco injusto, Porque depois da morte, todos lhe deviam fazer a justiça de que era merecedor, tanto mais que era nosso conterraneo, e nosso irmão. José Ferreira foi um dos poucos, senão o único, que nascido do povo, além das primeiras letras que na infância aprendeu, n’unca mais teve mestres, nem frequentou aulas superiores nem nunca teve exames. Todavia em tudo elle fez prodigios. Foi bom executante no seu tempo, foi bom cantor, foi corista em S. Carlos cujas partituras eram escriptas em italiano; ensinou centenas de descipulos pondo-os a tocar quantos instrumentos a tem música; produzio desenas de lindas composições que deliciavam o pôvo, tanto no genero marcial, como theatral ou religioso; d’elle dimanou orchestas, “sol e dós” e cantores; isto auxiliado porquem? pela sua força de vontade e inteligencia unicamente; haja em vista aquela linda missa que se cantou annos sem fim e que hoje ainda se houve dizer com saudade: “Ala [?] a missa de José Ferreira. a missa de José Ferreira!… Quanto elle concorreu para o brilhantismo das solemnidades levadas a effeito na nossa terra que tanto recreio produziram!… Quem desconhece o que era o José Ferreira em Sociedade, onde as suas anedoctas faziam rir o mais sorumbático vivente? Quem o via e ouvia nos theatros onde conservava as plateias em continua hilaridade! De tudo, recebeu sem duvida, muitos louvores e elogios, mas elle não os ambicionava porque nunca foi vaidoso mas o contrario. modestissimo quanto se pose ser. Comprova bem esta asserção de ser modesto em demasia os seguintes factos: Nunca se occupou em fazer qualquer recomendação para ser viavel após a sua morte; nunca pedio que ao seu funeral fosse, ou alguerm convidado ou alguma musica a tocar; nada por nada ser pedio, de que resultou ser sepultado em cova raza como um simples pobretão; ali não se vê um signal que indique: que alli está o corpo de um homem que fez os maiores serviços aos filhos de Palmella, ali não pode ir nenhum amigo para lhe agradecer o bem que neste mundo fez a muitos, á villa, á Igreja, ao theatro. etc. E finalmente neo uma fotografia sua deixou! Haveria alguem mais despido das vaidades mundanas? Apenas teve um grupo de devotados amigos que ao trigessimo dia do seu falecimento lhe mandou fazer exéquias pelo seu eterno descanso e teve a sua Sociedade que o acompanhou até à sua ultima morada executando por dever e gratidão uma sentida marcha funebre! Paz à sua alma! Faleceu na sua casa da rua das varandas, em 7 de fevereiro de 1905 com 73 anos d’idade!…

IV

Esta nova faze da Palmnellense, derivou da despedida do Sr. Pacheco e tendo-se convidado c Sr. Fernando, 1º clarinete da banda, este a principio recusou-se enviando os commissionados que eram Juaquim da Costa Borrachote e Francisco Lopes dos Santos, para o ex-mestre da banda, Sr. D. José Garcia. Ao thesoureiro e secretario da Philarmonica custou-lhes bastante aquclla recusa, mas accederam, indo fazer o convite a D. José. Este por seu turno disse não poder porque ensaiava a “Capricho” mas que instassem com o Sr. Fernando que elle (D. José) muito desejaria que ele aceitasse. Tornavam a estar com o Sr. Fernando. accedendo por fim. No dia pois, 7 de outubro de 1385. veio o Sr. Fernando dar o primeiro ensaio, accorendo n’essa noite à casa da Sociedade todos os que se interessavam pelo partido e que desejavam conhecer o afamado musico.Realmente a sua passagem como director da Philarmonica marcou a época musical mais excecional que Palmela tem tido progresso que não só contribuio para o desenvolvimento dos seus músicos, como para os seus adversarios, os quaes pelo estimulo recebido, aproveitavam os originaes processos empregados por aquelle grande musico para que não fossem suplantados. Realmente, a preciosidade das suas composições, a originalidade das execuções, a beleza dos relemtados, a perfeição dos picados e ligados, a placidez dos pianos e a excelente junção dos fortes, não esquecendo a elegancia da marcação do passo, tudo conjugado produzia o melhor dos effeitos alliado á melhor affinação, qual a melhor das bandas militares: ouvindo-se amiudo exclamar: “que daquella data em diante é que se tocava musica no rigoroso sentido da palavra” Sim, porque Fernando como militar de pulso, superiormente classificado e grande disciplinador, era homem para impôr e conseguir levar a effeito o que desejáva, pelo que grangeou foros de excecional e “Único” e honra lhe seja.Á sociedade que tambem se sujeitou a todos os sacrificios caprichosamente, vio coroados os seus sonhos dourados e atravessou uma epoca de gloria e de delirante enthusiasmo, sendo por isso procurada para ir ás mais longiquas romarias onde foi assazmente aplaudida, como em Samora, Samôco, Aldegalega, Moita, Palma, etc. Justo é dizer que em gratidão pelos seus salutares ensinamentos, teve a seu lado não só a bôa vontade de todos os philarmonicos, corno tambem um grande auxiliar qual foi o Sr. Joaquim da Costa Borrachote que como contramestre habilmente o substituia nas saidas onde o mestre não podia ir, e como thesoureiro da Sociedade estava sempre sollicito para prover a associação do que se tornasse preciso, sendo além disso o maior amigo e admirador do Sr. Fernando. O Sr. Fernando que sem favor teve todos os seus philarmonicos por seus amigos, soube igualmente reconhecel-o pedindo a esses amigos que lhe obtivessem a reforma para mais de perto estar no seio da Sociedade, o que felismente se obteve, podendo assistir então a todas as festas onde a sociedade fosse, tratando-a com o maior carinho, e podendo ser mais assiduo no seu mister.Porém como quando se nos foge a bonança temos logo a procella, o Sr. Fernando tendo recebido lisongeiro convite para ir para Faro ensaiar uma Philarmonica mediante fabulosas garantias, apressou-se a vir expôr o facto à Sociedade e accrescentou que lhe diziam: “que se elle não acceitasse o convite, não era amigo de seus filhos e restante familia” – ao que o thesoureiro ponderou a necessidade de que devia acceitar, visto que a filarmonica Palmellense lhe não podia garantir regalias. Trocaram-se mais algumas palavras, pode-se dizer banáes e procedendo-se ás despedidas, duas lagrimas se viam rolar pelas faces tanto d’um como d’outro. Este facto deu-se em 3 de dezembro de 1892. promettendo o senhor Fernando de breve visitar a Sociedade, o que realizou no dia de Natal do mesmo mez, jantando com outros amigos em casa do thesoureiro. Com a saida do Snr. Fernando foi convidado o Sr. Moniz. de Setubal, mas coincidindo a sua posse de director com as renhidas eleições de Baptista e Costa Pinto, as openiões dividiram-se e grande parte dos philarmonicos que já tinham prestado serviços ao Sr. Baptista, recebendo a sociedade avultados donativos, tomaram o caminho de Costa Pinto e a Sociedade desligou-se d’elles, indo aquelles formar uma sociedade nova. que ficou no partido contrario ao do Sr. Baptista. À sociedade Palmellense ia sucedendo o mesmo que em 1864, valendo-lhe uma pleiade de valiosos elementos que com unhas e dentes diligenciaram detel’a no desanimo a que ia sucumbindo. Porém com os salutares auxilios pecuniàrios do Sr. Baptista, ella logrou animar-se tomando essa nau, um bom rumo que com maré de rosas chegou a ponto de salvamento. Sobre a outra fase desta sociedade, falaremos mais adiante. porque forçoso é ocuparmo-nos da nova associação.

V

A nova Philarmonica foi fundada em 22 de Novembro de 1892, tomando o nome de: “Sociedade Philarmonica Harmonia” e tendo por habil ensaiador o Sr. Luciano Henrique Nctto do Cazal. Homem sabedor do seu officio por ter sido destincto musico militar, acrescendo ser muito activo e apreciavel compositor. Servio de casa d’ensaios os aposentos térreos de Monsenhor Simões, sendo o seu primeiro presidente o abastado lavrador Sr. Francisco Carvalho d’Oliveira e Silva, cargo que pouco depois declinou. A sua primeira saida só se realisou em 10 de Junho de 1893, extreiando por essa occasião, senão um luchooso fardamento, era todavia decente. Nessa saida para a qual se organisou uni arraial no largo da sua séde. tocou-se um hymno que o seu ensaiador dedicou á sociedade, o qual tocando de madrugada á Alvorada, foi mais tarde á missa parochial e de tarde para o coreto, onde foram muito aplaudidos pelos elementos partidarios. Continuou a Harmonia progredindo, abrilhantando as festas da Igreja para ser agradavel ao seu patrono Monsenhor Simões, podendo-se bem dizer que até ao anno de 1900, atravessára urna epoca de verdadeira prosperidade. Esse bem estar que teve a duração de 7 annos, perdeu a sua maior vitalidade em outubro d’aquele anno, podendo bem dizer-se que esta sociedade durante a sua vida, (que foi efémera) passou por duas fazes bem opostas, a primeira de prosperidade e a segunda de verdadeira decadencia até sucumbir.Para descrever-mos esta segunda faze, impossivle nos é deixar de recorrer á ironia pelos factos assazmente picarescos por que passou. Indo já longa esta historia e sem duvida talvez massadora, forçoso é romantisal-a para melhor desopilar a curiosidade de quem a ler. Tendo a risonha Harmonia navegado em maré de rosas no decorrer da sua primeira fase, sobreveio-lhe a udaz a porcelha que repentinamente a levou a defrontar-se com colossal rochedo, reconhecendo que a salutar viagem não podia proseguir por causa das terriveis circunstancias que lhe detêve o navegar, dahi os primeiros signaes da sua iminente decadencia fisica e moral.Estávamos em Agosto de 1900 em que se haviam de realisar as eleições de deputados: baptistácea Burneácea. Era chefe político da Harmonia o grande proprietario hoje falecido sr. José Maria dos Santos. Com fervôr se desencadeou a borrascosa influencia eleitoral. Os extremos tocavam-se e se Baptista dispunha da influencia popular, Burnet contava com a influencia dos grandes endinheirados. O nucleo que dirigia a Harmonia, via nas proximas eleições o maior cheque que não só ia dar no Baptista como nasphilarmonicas que o acompanhavam. No auge pois do entusiasmo, tomaram a resolução de irem á Junqueira ter com o seu chefe supremo, expôr-lhe a situação lisongeira que lhes proporcionava; dar combate rijo aos seus adversarios e receber as suas ordens para que a guerra ao inimigo fosse immediatamente um facto. Depois de expostas as razões que ali os levava, ouviram da vós do seu oràculo, o seguinte: – “Sei quecontendores são Burnet e Baptista e os senhores vão d’aqui já ter com o mesmo Baptista expônham-lhes a situação e se elle der um contito de reis, despensem-lhe os serviços porque a Sociedade precisa é de dinheiro!… Com quanto os commissionados se admirassem do extranho consêlho do seu chefe, por outro lado o contito era o melhor penhor para a existencia desafogada da sua rica Harmonia. Os homens expuserãm ao seu senhor, aceitarem o conselho e já iam pôr em pratica as suas deligencias procurando na estação do Terreiro do Paço o Sr. Baptista onde estaria para embarcar para a sua casa em Setubal. O trajecto da Junqueira á estação precorreu-se n’um ápice. Elles ali e Baptista a chegar. Acercaram-se logo delle expondo-lhe a proposta do Sr. José Maria dos Santos; Baptista estupefacto, sem pestanejar, olha para o tecto da estação e sem nada querer do mesmo tecto, raciocinava: “Que mudança de tempo tão inesperada! O Santos mandal-os para cá!! Mas um conto é muito!… Mas senão lhes dou, ainda perco mais porque me fazem guerra atroz, e não venço a eleição!… E dirigindo-se-lhes, disse: – Bem, dou o conto e venham já recebel-o a minha casa. Os homens impacientes nunca lhe pareceram tão comprida a travessia de Lisboa ao Barreiro; eles. ora julgavam que o vapor não navegava, ora notavam que nunca andára tão devagar!.., e mudando diziam: Isto de musicas o que precisam é de dinheiro e recebel-o o mais depressa possivel é que convém porque era eleições, é a coisa mais facil para se faltar à palavra. Mais uma vez lamentando a distancia em que estavam do Barreiro suspiravam até que o barco atracou. Na subida do caes, Baptista encontrando-se com os seus amigos (por dinheiro) exclama: Então com tão fagueira viagem os senhores estão tão descorados? — Fagueira? uma viagem que parecia não ter fim!… – Qual… os senhores o que estão é com pressa; venham para a minha carruagem que eu pago o excesso e conversando pássa-se o tempo mais depressa. Assim foi, seguiram, mas cada um por sua vez deitavam a cabeça de fora para verem se Setubal ainda estava muito longe. Elles lá e o contito em notas no bolso; e de Setubal a Palmella foi um ar. Na casa da sociedade que estava pejada de inimigos de Baptista e anciosos por saberem o que se passára; quando os homens chegaram ofegantes, os que ali estavam anteciparam-se logo a perguntar: – Então trazem ordens de darmos caça a todos os baptistáceos?… Responderam: – Pelo contrario nós somos Baptistas para todos os effeitos… Ahi é que rebentou a bomba. Todos se puseram brancos como a cal e exclamaram em côro: – É possível!… — Já cá temos um conto e agora iremos com elle para onde nos quiser levar. — Ó sorte mofina estaremos sonhando: – É o que lhes digo, querem ver: (e mostrando os lenções) Elle aqui está e sem isto não se pode comprar melões.O numeroso grupo e os proprietarios da casa abysmaram e disseram: – Não pode ser, essas nota são falsas, não as queremos; lévem-nas para d’onde vieram; nós seremos burnét para todos os effeitos — (os possuidores das massas apertando mais as algibeiras) — D’aqui é que ellas não saem dê lá o caso por onde der. E de novo replicam os proprietarios da casa: – Ou os senhores serão por Burnet e contra o Baptista, ou fecha-remos esta casa para não mais cá entrarem?! E diziam os do bago: – Nós somos p’lo Baptista por conselho do Snr. José Maria dos Santos. Em presença de dictos tão cathegoricos, os proprietarios também cathegoricamente disseram: – Pois bem, as portas vão já fechar-se e então… rua. As contrariedade fôram grandes e a discussão assas acalorada; ao mesmo tempo iam saindo, ficando os proprietarios por dentro fechando tudo a sete chaves e mais uma tranca de espeque. Todos commentando o caso foram indo para suas casas ficando apenas fora da porta o grupo que fôra a Lisboa. A lua dáva-lhes em cheio nos rôstos ouvindo-se por encanto uma voz: “Ó fado que foste fado, ó fado que já não és; por causa de ti meu fado. não posso ali pôr pes”… Diz um: – Quem é que está a achar queor com coisas tão sérias? E logo a mesma suposta vós que elles ouviram: – “Eis-aqui a Harmonia, que teve fama de nobre, em quanto pobre foi rica em quanto rica é pobre”. Todos desatam a andar exclamando: O que é de mais é de mais. E sem ninguem mais dar pio, cada um se achou em suas casas sem vontade de proferirem palavra.O caso da reviravolta eleiçoeira, deu que falar, causando espanto em Palmella dizendo toda a gente: por causa da ganancia, voltaram a casaca aos casacas. No dia seguinte os directores acharam-se encontrados propositadamente, e como o travesseiro é bom conselheiro, resolveram ir ter com Baptista, que como presidente do Munícipio, lhes emprestasse uma das salas da Camara para a Harmonia ensaiar. O pedido foi logo atendido e do occorrido, se deu conhecimento ao affeiçoados (minusculos, porque os maiusculos estavam todos como bichas). Porém matutáva-se para se descobrir o meio de se obter os instrumentos que ficaram presos à ordem superior. Daqui nasceram as conjecturas sendo uma dellas a seguinte: – “Se não nos derem o que é nosso, deitâmos-lhes as portas dentro”. Eis a razão porque de espeque estava um trancão.Ao passar alguns dias os referidos proprietarios já iam ouvindo uns zuns zuns assustadores e um dia deliberaram abrir a porta do lado por onde os homens foram á formiga passar os instrumentos, os quais todos, não tugiam nem mugiam, áparte o grande gáudio da garotada. Instalada na sobredita sala da Camara, a Harmonia sentio um certo alivio á sua triste tristesa. E suspirando, ia dizendo consigo: ora os meus filhos mais queridos, pôrem-me fora da casa quando é certo que me acolheram com o mais alvoroçado enthusiasmo!!! Elles que eram os ossos dos meus ossos, a vida da minha vida!!!… Graças ao Baptista tinhamos dinheiro para pagarmos a renda da casa se fosse preciso!!! Enfim a Harmonia desarmonizada e abalada no seu organismo pela divergencia dos seus membros, lastimava: que, realmente as notas pareciam falsas, pois nenhum valôr tinham… A desordem na Sociedade era enorme sendo a desarmonia completa; demais, achava-se sem medico assistente pois que o outro assistente tinha abalado nas azas dos ventos qual casalinho amoroso, que quis ficar do lado dos proprietarios seus bemfeitores. Foi resolvido ir chamarse o doutor mais afamado para vir para junto da Harrnonia que só possuia falsas notas. Coube a sorte ao Sr. José Bento Soares, melro de bico amarello, que dava leis, em Infanteria 11; o qual pondo-se nas azas, veio, cumprimentou a Harmonia e aquella correspondendo-lhe disse: Senhor doutor, não receie receitar bons medicamentos para curar a desordem que tenho nos intestinos, porque em depósito lá temos um conto em notas para pagar o seu trabalho. Ao que o melro respondeu: – Tenha esperança que d’esta ainda não vae; casa onde ha miôlo ninguem morre á mingua. E lançando mão de um papel de musica, no cabeçalho escreveu: “Hymno da Sociedade Philarmonica Harmonia” e apresentou-lho; ao que ella sorrio dizendo: – Anda cá harmonia que te quero ver. A Harmonia com tão salutar receita foi-se reanimando e conformando. Todavia as divergencias eram patentes, uns por causa da reviravolta, mas isso suportava-se porque lá estava o dinheiro, mas o que mais lavrava era a desconfiança nos que tinham o bóde. O hymno tocou-se e as eleições fizéram-se com certo ruido terminando por a urna ir pelos ares sem se saber quem ganhára.Estáva-se em Outubro, passou-se Novembro, Desembro e Janeiro e uma noite de torpel entra na casa do ensaio um grupo alarmado gritando:, (emquanto o assistente junto da Harmonia puchava pelos ultimos arrancos d’um paivante) “Então não sabem?, temos novas eleições em fevereiro, porque as outras foram annuladas por a urna ter ido p’lo ar”. A Harmonia que escabeciava, abre os olhos, põe-se de pé e grita: – Ainda bem, ainda bem!!! — o doutor sarampantado exclama para ella: – Que é isso, que é isso, é delirio ou alegria? Respondendo ella: – Pois não vê que em prespectiva de novas eleições, novas notas virão para se fazer uma casa para eu morar sem receio de me pôrem na rua?!… Todos: – É verdade é verdade e tambem queremos um fardamento novo para a musica. E a harmonia supondo dedilhar n’uma lira, torna a cantar: “Ó fado que inda és fado, ó fado do coração, por causa de ti meu fado já levei um entalão.Todos estavam concordes em se apanhar novo contito; (emquanto o assistente esfregava as mãos dizendo consigo: – “Emquanto houver cascaveis, não arredo d’aqui pés.”) Bem, começou-se a mover de novo as eleições e preciso se tornava irem ao “Jube Domine” do seu Senhor, o que puseram logo em prática. Elles lá, lhe expuseram: que visto as eleições estarem marcadas para o dia 11 de fevereiro (1891) vinham de novo consultar a V. Ex.ª – Resposta: – “Os senhores vão agora ter com o sr. Conde Burnet que lhes dei quinhentos mil reis, porque o pobre só o que quer é dinheiro e no caso que elle accéda, offréçam-lhe os seus serviços eleitoraes. Foram; receberam os cumquibus e vieram; estalando nova bomba pela nova reviravolta. Mas ó triste sina da Harmonia, a notícia que d’um salto chegou aos ouvidos do Baptista este mandou immediatamente ordem de despejo da casa da camara e eis que novo desgosto sente a Harmonia a qual em éxtasi, muito desolada parece de novo pegar na lira e repete: “Eis aqui a Harmonia, que teve fama de nobre, em quanto pobre foi rica em quanto rica é pobre” Mas todos lastimando a sorte “de quanto mais dinheiro mais desgraça.”, diz um dos assistentes: Ninguem esteja triste, que eu offereço a minha casa aqui defronte para se ensaiar, em quanto se não faz outra nova: isto para se não passar por mais vergonhas. E na mesma noite, n’um salto de arte magica saem de torpel da casa da camara e sóbem com todos os moveis as escadas do Sr. Francisco Ambrosio Ferreira.Bem; as eleições fizeram-se vencendo o Sr. Conde não logrando porém estar muito tempo no parlamento por cair d’ahi a pouco a situação governamental. A coisa n’este ponto, resólveu-se dar começo à casa na rua de S. João e mandar fazer os fardamentos, mas continuando as desavensas por causa de desconfiarem de quem estava de posse do bôlo.Bem, a casa começou-se, os fardamentos feitos com o dinheiro dos dois infelises, estreiou-se: a musica andou rua abaixo rua acima mas a discordia ia alastrando no interior da Harmonia; O dinheiro ia-se esfarrapando e uma noite, na ipóthese de que o dinheiro se acabasse, para lá foi a Harmonia senter-se [?] em noite de névoa no casarão sendo surpresa geral aquelle salto quasi mortal. O assistente ainda se conservou emquanto a coisa zunia no cofre, mas logo que vio haver dificuldades no recebimento de certa nemsalidade, deu àz de “Villa Diogo” desaparecendo para nunca mais aparecer.A Harmonia em presença de casos tão deprimentes, ia-se desfalecendo a pouco e pouco tendo sempre no seu sentido o fatal estribilho, que era o que mais verdade lhe tinha falado. N’esta desolação e sem assistente, sentindo entrar o frio por mil buracos visto que a casa não foi ao fim por causa das circunstancias, vivia contrariada vendo-se definhar a olhos vistos. Em presença d’esta situação afflictissima. lá a consolaram tendo ido procurar novo doutor, caindo a sorte no sr. António Maria d’Oliveira; o homem chegou, animou a doente dizendo: que não estava tão doente como se dizia, tentou entrete-la com as suas drogas mas logo que viu dificuldades na satisfação dos seus salavios [?] n’uma manhã que ninguem se achava na rua, sae elle apressado dizendo com os seus botões: “Adeos. adeos, adeos, que me vou… E foi-se. A Harmonia caminha a passos largos para a Agonia. Os seus proprios elementos a iam desamparando. Nova crise sobreveio, pois que além da falta d’assistente via cada um esfarrapar para sua banda: ali tinha que jazer à mingua de recursos e ao desamparo de seus filhos. De surpresa, aparece o doutor Saraiva… todos olharam para elle com certo despreso, pois vinha acompanhado de familia andranjosa. Disséram-lhe: fique para ahi. Depois de empregar as suas mésinhas pelos lados mais accessiveis. vio, que nenhum resultado tirava: pedia a jorna mostravam-lhe desdém e n’uma manhã que era demasiada a saraiva, safou-se para logar desconhecido donde nunca mais se soube noticias de S. Ex.ªA Harmonia ia morrendo lentamente e completamente despida das suas antigas galas, via com tristesa que só um pequeno numero de membros se exibiam no cirio da Senhora d’Atalaia, e n’um desses annos, 28 d’Agosto de 1910, deu a sua alma ha historia morrendo desiludida não dando porém o seu ultimo suspiro sem dizer:

“Eis aqui a Harmonia

“Que teve fama de nobre

“Em quanto pobre foi rica

“Em quanto rica foi pobre.

VI

Retomando como nos cumpre o fio historico da Palmellense, diremos sobre a sua faze de 1892 a junho de 1917 o seguinte:A caravella Palmellense teve pois que ancorar em pôrto seguro em seguida á saida do seu mais audaz piloto; mas como era mister obter-se quem o substituisse, mais bem ou mais mal, foi como se disse convidado o Sr. Moniz. A obsequiosidade do Snr. Baptista á Palmellense teve a duração de dezoito annos, não se estendendo essa protecção por mais tempo por ter sido proclamado o regimen republicano em cujo meio se não dava bem, afastando-se dos seus amigos deste concelho para se isolar. A Sociedade reconhece com gratidão todo o bem recebido, sentindo que homem tão generoso, trabalhador e cheio de vida, viesse a sucumbir tão permaturamente. Paz à sua alma e faz votos para que o bem que despensou à Palmellense e a tantas outras colectividades, como ao povo, vá recair em sufragios a favor da sua alma bemfazeja.Anterior a este benfeitor, grato nos é recordar a figura veneranda do que foi o seu benemerito fundador, Dr. Antonio Carlos dos Santos. Foi S. Ex.ª presidente d’esta sociedade desde a sua fundação em 1852 até 1885, data em que pela sua impossibilidade depôz o cargo nas mãos do Sr. João Salgueiro por assentimento da Phylarmonica, sendo por tanto com justificados motivos proclamado um dos melhores esteios d’esta associação, naqual foi músico executante havendo razão bastante de sentir certo desvanecimento por possuir por tantos annos na sua presidencia a figura mais sábia e respeitavel do nosso tempo, servindo-a com o mais acrisolado amor, inteligencia e carinho. O Sr. Santos além dos seus relevantes serviços prestados a esta nossa terra, aliava à sua intiligencia a bondade mais personificada e bastará frisar-se um facto para o confirmar: Havia duas cousas por quem o nosso bom doutor era extremamente fanático, mas um fanatismo aceitavel e puro: “era a Festa da Senhora Sant’Anna e a sua sociedade Phylarmonica”. Aquella, não se podia fazer sem esta e esta não podia passar sem aquella. O Sr. Santos impôz a si proprio o dever de sustentar aquella saudosa festa até que elle vivesse e assim sucedeu, não havendo depois ninguem que tivesse a devoção de a tomar a seu cargo, não obstante ser a festa mais sympática d’esta Villa, a única que dava bôdo aos pobres. Falleceu em sua casa em 5 de maio de 1895, cumprindo a sua sociedade o imperioso dever de o acompanhar à sua ultima morada executando uma sentimental marcha funebre, sendo igualmente acompanhado de muito povo de que d’elle tinha recebido inumeraveis serviços não só como devotado amigo de Palmella, como na sua qualidade de doutor medico; era caritativo e sabedor. Tinha 79 annos, tantos foram os que empregou a aprender a regra de bem viver empregando-os na maior parte em servir “bem” a nossa terra e dispensando sempre que pudia valiosos auxilios não só á música e ao theatro, como á Igreja e Irmandade, sendo o unico que se encarregava das reprezentações ao Estado. Outro valoroso auxiliar da Sociedade tem sido o Ex.mº Monsenhor Simões, filiando-se seu socio contribuinte desde que veio para aqui em 1874 e dispondo ha annos dos seus aposentos terreos para a Phylarmonica gratuitamente ali ensaiar. Ponderando-se bem, não só tem valor o que fica dito mas tambem o grande encommodo que passa com sua familia devido ao barulho dos ensaios, como o encommodo dos baeles até de madrugada. É por tanto na actualidade o seu maior protector pelo que foi considerado seu presidente de merito. Acertadissima e muito grata lembrança, foi a que levou a Sociedade a obter um quadro da sua fotographia pondo-a na sua sala ao lado do antigo amigo e fundador Dr. Antonio Carlos dos Santos. Essa justa deliberação muito grata tambem nos é aqui registar, primeiro pela justiça que lhe foi feita; segundo, porque muito nos regozijamos com gestos de tal ordem que assazmente ennobrece quem os pratica.Ultimando este capitulo diremos: que a seguir ao director Sr. Moniz vieram outros não menos habeis como o bemquisto Valerio, o altivo Nicolau, o risonho Caetano Nunes Pereira, o bonacheirão Pimentel, o incansavel Casal e o benévolo Patinha, o qual nesta altura é quem dirige a barcassa musical Palmellense. Não esqueceremos os respectivos presidentes, além do nosso Santos: João Salgueiro, Manuel Joaquim d’Almeida, João Rodrigues da Costa, Joaquim da Costa Borrachote, Felipe Cabica, Mechas e outros estando nesta altura na presidencia o Sr. Abilio Baptista.

VII

EPILOGO

Teem sido incalculaveis os relevantes serviços prestados pelas musicas ao povo e a esta nossa querida terra. Com estes serviços as phylarmonicas tem-se enobrecido erguendo bem alto o nome de Palmella á apreciação dos forasteiros, alcançando-se assim glorias para a propria Patria gloriosa de Portugal. Quem se terá esquecido das grandiosas celebrações pelos feitos heroicos de Hermenegildo Capelo realisados em territorios africanos e celebrados aqui em 1883 e 1885? E quem foi que mais brilho deu a esses justificados festejos senão as musicas que espontaneamente se associaram às festas, desafiando com os seus hymnos o amor patrio dos que nellas fiseram parte? Essa grande virtude tiveram sempre as nossas sociedades; falem-lhes em festas patrioticas e dias na rua levando consigo a multidão que tanto venera o Estandarte pátrio e o Hymno Nacional. Vieram em 1894 e 95 as victórias alcançadas em Coeléla, Marraquêne. Maijàcáse, etc. seguindo-se a prisão do traidor Gungunhana? Quem foi que deu valor e levantou a alma portuguesa como foram nos Te Deuns na Igreja como nos cortejos das ruas? Quem foi que deu mais realce á recepção se Sua Em.ª o Snr Cardeal Patriarcha na sua primeira visita a esta gloriosa Villa de nobres tradições históricas em 1898? foram as tres Phylarmonicas que entusiasticamente se apresentaram a prestar as suas homenagens ao nosso Prelado, nosso Patriarca e pae espiritual. Quem é que na reedificação do Pelourinho em 17 fevereiro de 1907 prestou o seu mais valioso concurso? Quem tem sido que ás solemnidades teem imprimido mais brilhantismo tanto nas religiosas como nas profanas senão sempre as musicas que todo o anno esfalfam por ensaiar lindissimos numeros para recreio de todos, tanto nos coretos como nas procissões, arraias e variados cortejos? São as musicas; sustentadas pelo povo mas mais principalmente pelos proprios musicos, pelo que se ralam, pelo tempo que perdem e pelos sacrificios que passam! Por isso não faltaremos ao sagrado dever dizer aqui em nome dos bons patriotas:Vivam as Phylarmonicas porque sem ellas Palmella seria tristonha e sem valor, vivam.

“SOL E DÓS”

Tambem os “sol e dós” tem o seu relativo merecimento, que fazem saltar dos leitos a altas horas da noite, as pequenas para ao postigo virem saudar e louvar as estudantinas que sob a sua janella cantam e tocam aquellas lindas e amorosas canções populares as quaes arrebatam os corações, mais seccos, mais duros e menos sensiveis. Ah, como nos lembramos desses tempos que já não voltam! quantas saudades nos não fasem!!!… ver as raparigas sorridentes atras de nós ouvindo com entusiasmo o timbre saido das nossas rabecas!… Quatro Sol e Dós houve em Palmella: O Palmellense, fundado em 1878 e terminado em 25 de dezembro de 1907.O Humanitario, fundado em fins de 1890 logrando só ter vida até 1891.O Harmonia fundado em 4 de Novembro de 1892 acabando em Agosto do anno seguinte, realisando uma unica festa bôa a da Senhora da Saude de Villa Fresca.E Foi o democratico que veio com o novo regimen, fundado em principios de 1911, fazendo uma única excurção á Escudeira desavindo-se no caminho, mas reaparecendo uma noite no theatro da Humanitária fazendo bôa figura mas ficando por ali os seus serviços.Para lastimar é, que elles não continuem a vigorar para recreio e valor da povoação.Ainda da Palmellense dimanou uma orchestra que bem posta e composta, logrou realizar bôas festas, com pricipio em 1880 e seguintes annos até 1892.
THEATROS

Os theatros são igualmente filhos da musica, como a musica é filha dos theatros.
A Palmellense teve o Theatro da Camara e do Monsenhor, n’elles foram as principais peças “A Cruz de Malta – Camões do Rocio – Era uma vez um rei – Feio de corpo bonito d’Alma – Culpa e Perdão – Amor Maternal – Intrigas no Bairro – As Costureiras – Carvão e bolos – Portugueses em Africa, etc. Teve a Humanitaria o da Rua de S. João – onde levou: O Beijo – Os Zuanos – Um casamento em Brancanes, – A Epadeada – O Filho da Republica – O Burro do Snr. Alcaide – A Mascote, etc. A Harmonia teve o theatro de Monsenhor e o que é hoje da Hurnanitaria, levando á scena entre outras, as seguintes peças: Os trinta botões – Barba azul em Cacilhas – Madrinha de Carlos, etc.As quaes peças (começando do principio) teve os seguintes ensaiadores: Antonio Carlos – Miguel Maria – Pina Coelho – Romão – Caetano – D. Marquinhas – Fonseca e Manuel d’Oliveira.

NOTAS

ALCUNHAS POPULARES DAS PHYLARMONICAS

Os povos das provincias tiveram sempre por habito, inclinação e disposição alcunharem pessoas, collectividades, etc. com epitetos mais ou menos ridiculos ou estravagantes; do mesmo modo como procederam com as Phylarmonicas desta Villa, sendo mimoseadas: a Palmellense com a alcunha de: “Loureiros” por estes costumarem enfeitar de louro todos os seus festivaes, salientando-se um arco triunfal feito por occasião da vinda a Palmella, do candidato a deputado Dr. Annibal Alvares da Silva. A Humanitaria proveio-lhe o epitheto de, em certa época andarem em grupos pelas ruas, de várapau escudados com a auctoridade regedoral, julgando os adversarios andarem com fins desafiantes; dahi, a alcunha de Caceteiros. A Harmonia foi alcunhada com o epiteto de “Palheiros” Porque sendo creada por occasião de renhidas eleições, vindo aqui José Maria dos Santos (seu chefe politico) offerecia palha a quem quisesse ir lá buscala eis a razão de Palheiros!

HYMNOS

A Palmellense teve cinco Hymnos, sendo o primeiro de José Cyprianno; o segundo de José Ferreira, o terceiro de Fernando, o quarto de Moniz e o quinto de Valerio; tendo-se na regencia do Cazal opinado pelo primeiro que é o que hoje vigora. ´A Humanitaria, teve dois, sendo um de José Ferreira e outro do Martinz, tendo sido este tão lindo e de uma originalidade tão singular que é o que ainda hoje a Sociedade toca. A Harmonia teve dois, um feito por Cazal e outro de composição de José Bento Soares, sendo este que prevaleceu até final.

“FARDAMENTOS”

A Palmelense teve oito; sendo o primeiro de fardeta de veludo verde e boinas de veludo encarnado. 2.° Fraque e bonet preto com lira amarella, calça branca ou preta. – 3.°de Panno azul e bonet simples com galão estreito dourado – 4.° – de Panno azul com bonet képi á D. Pedro Quinto; – 5.° – Fardetas de panno azul escuro com botões amarellos, calça do mesmo panno e capacetes simples. – 6.° casaco abotoado e bonet de cinta encarnada – 7. Fardamento de luxo, de pano azul, com capacetes grandes e cordão vermelho caido. – 8.° finalmente o actual: casacos abotoados com bonés de galão prateado e lira. A Humanitaria – teve 7: primeiro, fraque preto com bonet da mesma côr e lira branca e collete azul. Segundo: de côr de pinhão e bonet chato com lira. Terceiro: fardamento de meia-lona e bonés brancos para o campo. Quarto – Uniforme de valor: panno azul calça com listra e capacete de grandes dimensões. Quinto – fardamento com facha azul e branca com chapeos largos. Sexto: fardetas e bonet alto de galão dourado elira. 7.° Uniforme luchoso de calça alvadia e listra, fardeta azul escura com charlateiros vermelhos e bonet de veludo encarnado e galão largo com lira. A Harmonia teve dois; primeiro, simples: de casaco preto e bonet com lira, e calça branca. Segundo, fardamento de lucho calça alvadia com listra vermelha, fardeta azul escura e bonet alvadio de cinta vermelha e lira.

Numeros de musica de mais sensação que as Phylarmonicas executaram:

A PALMELLENSE

De José Cypriano: o Hymno da Sociedade, o qual ainda hoje é usado.De José Ferreira: A Pomba e Saudade; o numero Caminhos de Ferro Pópurri de canções populares à Caninha verde; o ordinario Inglez; As peças “O Ézio, Lucrecia Borges, a Linda de chamoniz, O Pirata, Às tres rocas de Christal; um original ordinario funebre com igual marcha chamada a grande – o S. João Baptista composição sua. As valsas: A minha Estrella e o Desengano. etc. De Fernando, o seu primeiro ordinário, As delicias do caçador, a Valsa Inveja, o garoto ordinario, as clarisas de Palmella; As peças Belisario, Africana e a peça turca (Arabe) bem como a Revolta do Porto. De Leocadio e Martins: Hymno da Sociedade, As guardas da Rainha, o grande ordinario estreiado na segunda tourada dada pelo Sr. Pardelha dos snr. Antonio Julio José de Mattos e Nunes, grandes repertorios apresentaram salientando-se crermirno [?] este agora ultimo Sr. Nunes; que pena é as sociedades do genero estarem agora passando tão grande crise por falta de festas, porque as duas phylarmonicas existentes, teriam uma das melhores epocas da sua vida musical. Tambem dos restantes mestres como foram: Moniz, Valerio, Nicolau, Pimentel, Caetano, Casal, Pacheco e Patinha se executára preciosos repertorios os quaes todos reverteram em favor do nosso publico, pelo que nos foi muito grato alguma coisa fazermos sobre musica para jámais se deixar de recordar esse importante sacrificio que redondára em importantissimo recreio.

GRATA CURIOSIDADE

“POMBA E SAUDADE”

1.º

Alva pomba que pairava

Sobre o triste funeral

Viu o povo que chorava

Viu em lucto Portugal.

2.°

E no coche coroado

Mansamente se abateu

Como um oráculo sagrado

Que nos quiz mandar o Céo.

No alvôr da sua alvura

Via o symbolo da virtude

Via fé via a candura

Da que jáz no athaude

E vindo a pomba de novo

Pousar no coche real

Parece dizer ao povo

Deus protege Portugal

E o povo mais chorava

Vendo a ave innocentinha

Com fervor ao Céo orava

Pela alma da raínha.

6.°

E ella a pomba voou

Para Deus com a oração

O tempo os prantos seccou

Mas a saudade, essa não.

CONCLUSÃO

Ao terminar esta historia tão modestamente escripta, ousámos convencer-nos, a nós mesmo, de que todas as pessoas que leiam ou ouçam ler esta pobre descripção não nos accusarão pela audácia a que nos submetemos, mas sim nos farão justiça à ideia que concebemos, que, tão patriotica foi ella, como despida do mais pequeno desvanecimento, porque ao pôla em prática, foi simplesmente pelo reconhecimento em que estavamos de que se tornava necessario haver para o foturo alguma coisa escripta sobre o assumpto; pelo que nos decedimos a lançar a primeira pedra para a construção d’este edificio que muito bem pode elle um dia tornar-se em monumento, se alguma mão caridosa e apta a poder dotar do muito que ainda lhe faltará, ampliando-a e mimoseando-a com linguagem mais legivel, mais destincta e erudita; podendo então esta complecta historia, tomar logar junto das muitas que já existem nas selectas bibliothecas. E para nós só esperamos dos benévolos ouvintes, ou leitores, a sua maxima indulgencia para tão pobre trabalho a que nos abalançamos sem as aptidões necessarias.Bem sabemos que os que desejam fazer alguma coisa em favor da sua terra ou da sua patria, bom ou mau, estão sujeitos ás respectivas criticas, o que não sucede aos que nada produzem; mas nós consultando a nossa consciencia, deliberamo-nos pelo trabalho, considerando que com a salutar ajuda de Deus, alguma coisa produziriamos.E se alguem desdenhosamente no seu pequeno ou grande criterio julgar que desnecessario seria escrever-se a historia das musicas em Palmella, nós, no nosso entendimento embora acanhado, dizemos que os incalculaveis e valiosos serviços que as phylarmnicas nos tem prestado alguma coisa de importante representa entre nós por que as festivas solemnidades e mais regosijos publicos nada teriam de brilhantes no nosso meio, e todos esses festivas seriam monótonos e insipidos sem musicas tão importante melhoramento dentro do nosso querido torrão natal, torna-se merecedor de que o não esqueçâmos e o recordemos amiudadas veses pelo que grato nos é recordal-o escrevendo-o para o não esquecermos, e sentirmos consolação por frizarmos as benemerencias despensadas pelas beneméritas sociedades; tanto mais que as outras historias tambem se escrevem indo-se sempre ampliando.Podiamos não fazer coisa alguma destas, é o caminho que muita gente toma para se não ralar nem perder tempo; desse modo não pensámos nós, e sentimos que mais e melhor o não possâmos levar a effeito…Pedindo desculpa a todos pela enfadonha narração, reconhecidos agradecemos a benéfica complacencia em desculpardes a caligrafia que é má e immensamente pejada de attrictos;A todos cumprimentamos fazendo votos, para que após a nossa morte este escripto seja utilizado, esperando que vá acompanhado da benção de S. Pedro por ser o dia em que vae assignado. Palmella, 29 de Junho de 1917

Manuel Joaquim da Costa

(in loureiros.org)

Em Outubro de 1852, nasceu a Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros”, materializando-se assim um projecto ambicioso que ao longo dos anos enriqueceu e desenvolveu o património cultural, artístico, recreativo e desportivo de Palmela.

Hoje os “Loureiros” contam com mais de 150 Anos de magia cultural, recreativa e desportiva, século e meio de sonhos, de passado e estímulo com o futuro. A Sociedade Filarmónica Palmelense – Loureiros, chegou até aos dias hoje, com uma vitalidade própria da sua juventude e a experiência da sua idade, estando-lhe reservada um futuro que se pretende de grandes êxitos e sucessos.

Somos uma Colectividade que tem sabido servir Palmela, adaptando-se ás realidades dos tempos, de uma forma continuada, tentando de algum modo acompanhar o progresso verificado um pouco por todo o lado.

Os Loureiros têm contribuído largamente para o cumprimento destes objectivos, através da promoção e da cooperação das suas actividades, não só na nossa Região, mas igualmente por todo o País e por vezes no estrangeiro (Espanha, França, Áustria, Holanda, Bélgica), acompanhando sempre de perto as questões ligadas ao Movimento Associativo.

Os Loureiros é uma Instituição reconhecida a vários níveis o que nos permite afirmar que Ela nasceu para ficar, para ficar e para progredir. Para progredir enquanto houver uma tomada de consciência quanto ao seu dever de partilhar o conhecimento, não sendo uma tarefa difícil, principalmente para todos aqueles que sempre se disponibilizam, para trabalhar, para dar o seu contributo e para dar o seu saber, pelos Loureiros e por Palmela.

Gente que continua a dar de si, para os Loureiros, de um modo desinteressado, muitas vezes e quase sempre com prejuízo da sua vida profissional e familiar, mas sempre no interesse e no engrandecimento desta Casa. É com gente deste calibre que se tem feito mais de 150 anos de história cultural, loureiros que amam a música e as suas raízes, e que desejam transmitir este sentimento a quem os escutam.

Ao longo de mais de século e meio, ficaram pelo caminho muitos amigos, mas a insatisfação inesgotável dos Loureiros, desbravará certamente outros caminhos e novos sucessos.

Uma palavra final, de elementar justiça, para a persistência e para o entusiasmo de todos aqueles que contribuíram para manter-nos mais unidos, convidando-os a todos a desfrutar do convívio e estreitar os laços de amizade entre todos os Loureiros e a participar na continuidade e no futuro da mais importante Associação Cultural, Recreativa e Desportiva de Palmela.

Banda da S.F.Palmelense (Os Loureiros) - VILA FRANCA 2011

Concerto de Música de Câmara da EML - Sociedade Filarmónica "Palmelense" Loureiros 2014

Banda da S.F.Palmelense (Os Loureiros) - NAVEGAR NAVEGAR 2011

4º Concurso de Bandas - Banda da Sociedade Filarmónica Palmelense "Loureiros"

“De Viena à Broadway”
Gala de Operetas

Canción de la Paloma
da zarzuela “El barberillo de Lavapies” de Barbieri
Soprano: Leonor Biu

Banda da SFP “Loureiros”
Direcção: maestro Pedro Ferreira

Sociedade Filarmónica Palmelense, Os Loureiros, Palmela